Feliz Ano Velho - Marcelo Rubens Paiva


Esse era, de longe, o livro que eu mais esperava ler dentro do Projeto: Desencalhando Livros da Estante — talvez por já ter ouvido falar tanto dele, por ter deixado passar a oportunidade de ter lido lá na minha adolescência ou mesmo pela premissa promissora de um relato íntimo sobre superação após um acidente trágico. Mas, infelizmente, foi também o que mais me decepcionou.

Esperava encontrar nas páginas um mergulho emocional, uma reflexão profunda de alguém que quase perdeu a vida por um ato impensado e precisou reaprender a viver. Queria ver esse processo, essa reconstrução — física, emocional, familiar. Mas o que encontrei foi um texto focado demais na vida sexual do autor, seus desejos por meninas, amigas, mulheres que passaram por sua história, e muito pouco (ou quase nada) sobre o impacto real que o acidente teve em sua vida e na das pessoas ao redor.

Em nenhum momento senti que ele reconheceu a gravidade do que aconteceu. Não vi arrependimento, nem uma real valorização da vida ou dos vínculos familiares e afetivos. O tom é sempre meio debochado, despreocupado, como se tudo não passasse de uma grande anedota de juventude. Um emaranhado de memórias de um cara imaturo, que parece mais interessado em contar causos da banda da faculdade do que refletir sobre as mudanças radicais que sofreu.

Talvez, se eu tivesse lido esse livro na adolescência, tivesse curtido mais. A forma leve da narrativa, o estilo direto e fácil de ler realmente funcionam, mas o conteúdo ficou muito aquém do que eu esperava. Faltou profundidade, faltou emoção, faltou maturidade.

Enfim, não foi dessa vez. Desencalhei, mas não me encantei.

Feliz ano velho é o primeiro livro de Marcelo Rubens Paiva. Aos vinte anos, ele sobe em uma pedra e mergulha numa lagoa imitando o Tio Patinhas. A lagoa é rasa, ele esmigalha uma vértebra e perde os movimentos do corpo. Escrito com sentido de urgência, o livro relata as mudanças irreversíveis na vida do garoto a partir do acidente. Ele é transferido de um hospital a outro, enfrenta médicos reticentes, luta para conquistar pequenas reações do corpo. Aos poucos, se dá conta de sua nova realidade, irreversível. E entende que é preciso lutar. O texto expressa a irreverência e a determinação da juventude, mesmo na adversidade, e a compreensão precoce ''de que o futuro é uma quantidade infinita de incertezas''.




4 comentários

  1. Oi, Le.

    Eu li este livro na minha adolescência e gostei na época.

    Hoje, se eu fosse reler, veria com outros olhos porque a maturidade faz isso conosco. Há tantos livros que eu amei, e hoje não vejo da mesma forma, porque percebo nuances e certos assuntos que não condizem com a realidade.

    "Feliz Ano Velho" é mais fantasioso, uma linguagem coloquial, despretensiosa, como se a vida fosse uma brincadeira, uma grande bobagem.

    "Minha profissão é andar", do João Carlos Pecci (irmão do cantor Toquinho) é mais aprofundado nesta questão emocional, familiar e os dramas que enfrentou na paraplegia após um acidente automobilístico. Foi um livro que me marcou muito e não esqueci até hoje.

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    1. Dica anotada, amiga.
      Mas acredito realmente que o nível de maturidade hoje me fez não gostar tanto do livro.
      Bjs

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  2. Olá! Ahhhh, que chato que a leitura acabou não sendo tão legal assim hein, estava bem curiosa em relação a esse livro, principalmente depois de assistir ao filme dos pais dele, agora acho que vou com menos sede ao pote, para não me decepcionar tanto assim.

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    1. Pois é, não funcionou comigo e acredite, o filme "Ainda estou aqui" também não achei aquela Coca-Cola toda não, deveria ter imaginado.
      Mas leia, você precisa ter sua própria visão do livro, o que eu não gostei pode ser o que você procura. não é?
      Beijokas!

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