Dias de Abandono – Elena Ferrante


Primeiro contato com a literatura de Ferrante, Dias de Abandono, me arrebatou: é uma história única, das mais simples, porém cheia de complexidades, com uma narrativa quase que experimentativa, ao sabor do que se quer dizer enquanto o que acontece às vezes nem acontece.

Uma mulher abandonada pelo marido após longos anos de casamento, dois filhos, uma conta imensurável de sentimentos não ditos; Olga, esta mulher que nos narra, que empresta sua voz ao sabor de empreender uma busca por si mesma, para ela além do que era – ou achava ser.

Tendo que lidar com todas as coisas que sobraram, Olga é visceral em seu relato, não poupa ao leitor nada, nem pudores, nem a insatisfação, o ódio, o desespero. É das narradoras mais sinceras e brutais, aparece para nós em um momento de fragilidade, exposta a pele e exposta também o ‘sob a pele’.

Sem grandes mirabolâncias, a trama discorre exatamente a literalidade do título: os dias seguintes a esse abandono, o ciclo vicioso de busca pelo entendimento do que levou à culminância desastrosa do fim, a constante sensação de esvaziamento e incapacidade. Através de Olga, Ferrante nos convida à uma autorreflexão sobre os nossos próprios abandonos, sobre as partes que damos ao outro e, sem saber como revolvê-las, ficamos assim... abandonados.

É uma jornada dolorida, pequena em páginas – não chega às 200 –, mas grandiosa; duro o quanto pode e deve ser, Olga se explora enquanto nos explora. Com pouquíssimos diálogos e firmado mais nesse fluxo de consciência, as passagens de tempo são imprecisas, a própria narradora não confiável o bastante e ainda assim forte, potente, crua para o leitor do jeito mais verdadeiro.

Para quem quer ler Ferrante, acredito que seja um ótimo começo. De fato, não é uma leitura fácil, é preciso encontrar um ritmo e ainda assim incomoda – e por incomodar é que nos toca e move. Ferrante é, mais que qualquer outra coisa, uma prosa necessária e essencial, avassaladora!
Boa leitura!

Depois de quinze anos de casamento, Olga é abandonada por Mario. Presa ao cotidiano estilhaçado com dois filhos, um cachorro e nenhum emprego, ela se recusa a assumir o papel de pobre mulher abandonada . Essa opção a projeta num turbilhão de obsessões, angústias e ímpetos violentos, capazes de afastar Olga do fato de que as derrotas precisam ser assumidas para que a vida possa enfim seguir adiante. Assinado pela enigmática autora cuja verdadeira identidade é mantida em segredo, Dias de abandono colocou Elena Ferrante definitivamente no panteão dos maiores autores da literatura segundo público e crítica.




5 comentários

  1. Como eu ainda não li nenhum dos livros de Elena, só sei dessa fama dela trazer tramas viscerais assim, por ler resenhas e saber que seus livros são de uma intensidade ímpar.
    Por isso, acredito que a autora não seja assim, gostada por todos, pois já li gente abandonando livros dela.
    Eu ainda não conhecia esse livro, mas fiquei lendo a resenha e imaginando a gama de sentimentos de uma mulher ao ser abandonada assim, dessa forma abrupta.
    Xingar seria pouco rs
    Com certeza, é um livro que já vai pra lista de desejados!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  2. Não conheço ainda a escrita da autora. Achei a história tensa mas muito real por essa ser a realidade de muitas mulheres na sociedade hoje, que após anos de dedicação a casa, marido e filhos (muitas vezes sem profissão e emprego por conta do marido não deixar )são abandonadas a própria sorte . Ser mulher não é fácil , ainda mais quando o cargo de cuidar dos filhos e de tudo é jogado somente nas costas das mulheres. Imagino realmente uma leitura densa, pesada e triste, onde são narrados os anseios, medos, raiva e até mesmo culpa. Acho que daria pra fazer uma bela análise do papel que a mulher exerce hoje na sociedade com uma visão voltada para o casamento e a maternidade, e como a sociedade encara isso.

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  3. Ronaldo!
    Nunca li nada da autora.
    Pelo visto é um daqueles livros que faz nossa alma virar do avesso, nos empocionando, nos impactando e trazendo uma realidade pura, cruel e verdadeira.
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Olá! Impressionada de como esse enredo mostra um pouco (muito) da realidade de milhares de outras Olgas por aí, sem dúvida é aquele tipo de leitura de incomoda, mas também emociona e o mais importante nos faz refletir, ainda não conheço a escrita da autora, mas pela resenha já deu para perceber que vou gostar bastante.

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  5. Ola Ronaldo
    Não li nada dessa autora mas tenho muita vontade. Justamente por ela trazer esse tipo de enredo .
    Uma trama até mesmo simples na primeira impressão .Mas que relata o cotidiano de muitas mulheres que depois de se dedicar ao marido aos filhos e ao lar se vê de repente abandonada.
    Quantas mulheres já passaram por isso é deve dar uma sensação enorme de vazio .
    Então é chegada a hora de refletir de olhar para dentro de si mesma .reunir forças e seguir em frente. Mas também lhe e dado o direito de extravasar de sentir raiva.
    Sem dúvida quero conhecer a escrita dessa autora que tão bem retrata o cotidiano de muitas pessoas.

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