O que é ser Sempre Romântica?


Por favor, permitam-me ser sincera e até mesmo fazer um desabafo. Todo ano tem fama de ser difícil, mas 2020 veio para elevar o patamar da comparação. Não sei quantas décadas vivi desde a 0h de 1º de janeiro e não faço ideia de quantos séculos ainda vão passar até as 23h59 de 31 de dezembro.

Todo dia a gente é bombardeado por alguma treta, encrenca, notícia desestabilizadora. O que muda é o tamanho e a proximidade da encrenca – você pode temer o reflexo de alguma coisa no país ou pode acabar com as suas unhas com algum problema na sua família ou contigo. 

Tem dias que você só sai da cama por causa do guincho da obrigação – porque a vontade é ficar escondida debaixo das cobertas pensando como seria bom se o problema fosse que o Sr. Darcy, dono da metade miserável de Derbyshire, te acha tolerável. 

Mas não é. 

É um vírus que ninguém sabe como vai reagir se achar um caminho dentro do seu corpo e ainda não tem vacina. E já criou ausências doídas em muitas famílias. Ao contrário de Cinco Minutos, não há milagre por amor em Florença. Pelo menos, não ainda. 

Não podemos nos deixar paralisar pelo medo. Devemos nos cuidar e seguir em frente. Só que tem dias que você consegue se sentir bem e tem outros que você só quer esquecer onde está.

Geralmente, eu me desligo do mundo com um livro nas mãos. As adolescentes confusas sobre o futuro, aqueles primeiros amores complicados, os reencontros inesperados, os laços de família, as turbulências que colocam tudo à prova. 

Até quando me deparo com aqueles personagens que são uns embustes em forma de protagonista, agradeço porque reclamar deles é uma forma de extravasar o que não é possível fazer com as versões de carne e osso que existem por aí.

Se ao redor impera a incerteza, entro nesta bolha que funciona como uma espécie de universo controlado, onde eu sei que as coisas vão acabar bem... Claro que, dependendo de quem escreve. Tanto que vocês nunca vão me ver com um livro com excesso de tragédias e catástrofes por livre e espontânea vontade. 

Geralmente busco fofuras e risadas, quanto mais comédia romântica melhor. Pelo menos nas minhas escolhas literárias, prefiro ser assim. É uma pena que não é possível na vida real ir à livraria e encontrar um amor, comprar um cappuccino no Gio’s ou ver um MacGregor concorrendo à presidência dos Estados Unidos enquanto o patriarca está ensinando ao Tinder como é que se forma casal com 100% de matches.

Atualmente nem a gente nem a Ana de Krósvia poderia ir a um show do Bon Jovi – se bem que ambientes com grandes aglomerações nunca me atraíram antes. Sou mais de ter lugar marcado e ficar sentada sonhando acordada seja com o Il Volo ou com a apresentação da The Band. Neste caso, eu iria preferir topar com o George e o Ben e, com certeza, tiraria fotos com eles.

Ou mesmo embarcar numa máquina do tempo que me levasse para ver Lydia Greenville ser uma das pioneiras em atuar como jornalista enquanto aturava um canalha; pegar umas dicas de marketing com Sophie Noirot antes da era das redes sociais; aprender a resolver a vida como a indomável força da natureza Sophia e correr o risco de ser mencionada por Lady Whistledown como uma jogadora com táticas muito agressivas no pall mal e um gosto peculiar pelo taco azul, que nenhum Bridgerton conseguiria entender. 

Seria meio difícil eles compreenderem que, se houvesse Hogwarts, eu teria sido batedora da Corvinal. Na ficção, obviamente, eu não teria uma coordenação motora que rivalizasse com a protagonista de Um amor de detetive, que já conhecia pelo nome todos os plantonistas do hospital, inclusive um que parecia com o George Clooney. Ou com a Luna, que vivia num mundo dela e foi capaz de achar o Capscol é melhor que o Homem de Ferro só pra irritar o Dante. 

Pois é, não posso morar nestas histórias. Seria lindo poder me isolar nelas até muita gente neste mundo vasto mundo criar juízo – o que eu suspeito que vai demorar mais que a vacina para o novo coronavírus. 

Talvez eu seja um pouco Sempre Romântica. O que isso quer dizer? Bem, pela análise literal: sempre é um advérbio, que significa constantemente, sem exceção, perpetuamente. Já romântica é um adjetivo feminino referente a algo próprio de romance, do romantismo, poético, apaixonado. No sentido figurado, pode ser usado com o sentido de devaneadora, sonhadora ou mesmo piegas.

Você não vai me ver saltitando e cantarolando por aí como a Giselle, de Encantada, por exemplo. No entanto, acredito que tudo vai passar. Basta se manter firme, mesmo nos momentos mais complicados, e aprender ao longo da jornada. 

Um contraste entre a inflexibilidade do advérbio, que nunca varia, e o poder camaleão do adjetivo, que se adapta e até altera o substantivo a que se refere. Assim, Sempre Romântica à minha maneira, alimento a esperança de que dias melhores virão.

E se Ilsa e Rick sempre terão Paris, eu tenho os livros - o meu cantinho ter paz em meio ao caos. 

Beta Oliveira, do Literatura de Mulherzinha.

4 comentários

  1. que linda homenagem
    O que é ser sempre romantica ?para mim é sempre acreditar em coisas boas ,é ir contra tudo o que o mundo prega ,porque para mim ser romantica vai alem de um termo empregado para designar tal livro .
    é acreditar que a felicidade ainda está nas coisas simples da vida ,é não perdemos a nossa essencia .é não nos deixarmos ser levado pelo veneno do mal .
    bjs

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  2. Olá! Eita que esse 2020 veio realmente para sambar na nossa cara e mostrar que o que está ruim, pode sim piorar, como dizem por aí “haja coração, amigo”! Cada dia, hora, minuto é um flash, são tantos acontecimentos que definitivamente chega um momento que fica difícil manter a compostura, mas como boa romântica, prefiro acreditar que mesmo todo esse tormento tem seu lado bom e que o importante é que vamos passar isso e sermos ainda mais forte, mas romântica e mais humano do que antes e graças aos livros e suas histórias maravilhosas todo esse caos se torna um tanto quanto suportável, pelo menos para mim tem sido assim.

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  3. Beta!
    Acredito que em tempos como esse que etamo passando, temos de de ser Sempre romântica para podermos enfrentar as adversidades.
    E ler é um bom movimento de escape.
    Ver seu texto bem contextualizado com as personagens de livros que gostamos, foi uma experiÊncia diferente e bem enriquecedora.
    Que consigamos ter paciência para que possamos aguardar a cura e o retorno a 'normalidade', mas sem deixarmos de ser Semrpe românticas.
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Um texto desse tem o poder avassalador de nos tirar debaixo das cobertas e nos fazer seguir em frente!!!
    2020 veio para marcar a vida de todos nós e falo isso, colocando o mundo inteiro e sim, ainda temos tanto a viver até dia 31 de Dezembro e não, não sabemos como tudo ficará.
    Incertezas.
    Mas podemos viver com o privilégio da vida, difícil sim, complicada demais, mas vida.
    E devemos e temos que agradecer diariamente.
    O Ser Romântica é isso: Viver!!!
    Obrigada por esse sentir!!!

    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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