Quem Quando Queira – João Bandeira

Este texto poderia ser mais que uma resenha, mais do que impressões, poderia ser um poema. E então você me pergunta o que é um poema? E eu jamais poderia te responder porque, afinal, o que é um poema?

Nas mãos de João Banheira em “Quem Quando Queira” um poema é olhar para a vida e escrever.

Um poema é
Uma inquietação,
Um poema é
Acordar de manhã e olhar pela janela,
Um poema é
Uma lista de coisas que potencialmente podem virar um poema.

Não gosto de resenhar livros de poemas, de modo que esta é mais uma indicação do que qualquer outra coisa. Porque indicação é muito sobre quando somos tocados por dentro a ponto de querermos que esse toque seja uma experiência compartilhada.

Dividido em cinco partes, este livro se derrama como pequenas observações passíveis de dúvida: de si, do outro e dos lugares. Sinto que o autor trava uma batalha bonita com as palavras e as coisas, prendendo-as na liberdade do papel e fazendo do leitor um instrumento para tecer ideias, sentimentos e verbos.

Interessante perceber a construção de uma linguagem dialogal direta, com meios pontos frouxos que vão se realinhando a partir da própria experimentação pessoal de cada leitor. De fato, me foi um livro muito tocante que me deu uma sensação de passagem singela por cada ponto não colocado, por cada poema-visual – literal e metafórico.

Isto é a poesia, né? Esse assombro tecido pelas frestas, esse entendimento pactual entre o modo como o poeta se propõe a escrever e o modo como o leitor se resigna a lê-lo. Os dois se lendo e se descobrindo.

Por isso é mais uma indicação do que uma resenha. Porque acredito em uma pessoalidade da poesia e estou falando justamente sobre essa pessoalidade – que parte de mim para você, que lê esta resenha (porque, afinal, podemos chamar aqui também de resenha).

Boa leitura!

O livro é dividido em 5 partes. A primeira fala das vicissitudes das relações entre as pessoas. A segunda parte vislumbra lugares, viaja discretamente por espaços, cidades. Depois o livro penetra em labirintos de linguagem. Uma colagem cega, caótica e claustrofóbica de previsões de mercado e de destino, não se sabe se astrológicas, meteorológicas ou mercadológicas. A quarta parte homenageia pessoas ligadas à arte e à arte da vida, faróis ligados, cada um deles, num seu modo próprio de ser e aparecer na linguagem. Ao final, temos restos carcomidos de outdoors, estampados em poemas-fotografia onde se leem sobras indefinidas de anúncios publicitários, efeitos casuais de letras a compor vestígios de sentimentos ausentes, fechados por uma enigmática assinatura caligráfica em zás-trás.


3 comentários

  1. Concordo contigo na parte do não gostar de resenhar livros de poemas, poesias ou até crônicas. Varia muito da forma com que cada leitor o lê. Você pode ter uma experiência, eu outra e assim por diante.
    Acredito que por isso, a poesia seja mágica, pela interação de sentimentos entre escritor(a) e leitor(a)
    João é soberbo e mesmo que eu não tenha lido tantos poemas, textos dele, o admiro demais da conta e suas conexões com a alma humana sempre são tão intensas!!!!
    Amei e só aqui no blog, posso suspirar com algo assim, tão mágico e belo!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  2. Ronaldo!
    Devo dizer que sua resenha é um poema.
    Um poema dos sentimentos compatilhados através de palavras bem descritas e intensas.
    Sou uma daquelas apaixonadas por poesias, principalmente quando trazem sentimentos que oadunam com os nossos e podemos sentir em nosso íntimo e refletir sobre eles.
    cheirinhos
    Rudy

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  3. Olá! Eu gosto muito dessas indicações de leitura, pois apesar de ser uma leitura que eu curto muito, nem sempre sei onde encontrar uma dica bacana para ler, afinal são aquele tipo de leitura que quase sempre tem o poder de nos deixar mais leve, reflexivo e sensível.

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