O Homem de Lata – Sarah Winman

Com uma prosa poética impecável e um enredo lírico único, Sarah Winman, com O homem de lata, desenvolve, em cenários pincelados por palavras precisas, uma história de amor. E uma história de dor. Uma história, eu diria, que permanece: mesmo depois que você fecha o livro, depois que você lê outros livros, depois que você quase acha que o esqueceu.

Esse sentimento que perdura, tanto nos traz um sentimento de bondade, um tanto de simplicidade no sentir, quanto uma crueldade típica dos descaminhos da vida. A narrativa é toda atravessada por toques de inesperado, fluindo tal qual o rio que desemboca no coração do leitor. Sim, essa resenha ficará impregnada de sentimentalismo, mas o que a gente faz com um livro que mexe com tanta coisa de dentro?

Tudo se cristaliza na figura dos dois personagens principais – Ellis e Michael – mas eles só o são por tantos outros personagens que os rodeiam, tão cativantes quanto e de importância fundamental. 

A história em si é como o tempo viajando sem parar. As memórias embaralhadas, a cronologia fluída, tudo se misturando o tempo todo. Mas, é preciso ressaltar, sem qualquer resquício de confusão. As coisas se encaminham, sobretudo, nessa construção do que o leitor vai sentindo a partir do que se sente a narrativa – e digo narrativa porque ela própria parece a condução necessária para que nós, leitores, criemos esse envolvimento com o enredo.

Ellis e Michael são duas pessoas que o destino tratou de levar para lugares diferentes. Uma amizade nascida no espaço da infância e adolescência que findará em um futuro impreciso. E por isso a narrativa vai e volta: por vezes se dá nessa descoberta de um e do outro, por vezes na separação.

E é uma história triste. Triste de cruel mesmo; e de bonita também.  Os cenários de uma Inglaterra que inspira, girassóis de Van Gogh, bicicletas, quedas, aprendizagens, beijos, corpos. Essas coisas viram metáforas e literalidades, viram poesia silenciosa nas mãos da autora.

Por isso comove. Por isso permanece.

Sem dúvidas um dos melhores livros que li esse ano – e, mais ainda, na vida. Existem livros que simplesmente falam com a gente de um jeito difícil de esquecer. De um jeito que nos faz pensar no poder da escrita, no poder da literatura, no poder da palavra. O homem de lata me faz acreditar nisso.
Boa leitura!

Em 1963, Ellis e Michael eram dois garotos de doze anos que se tornaram grandes amigos. Durante muito tempo, sempre foram apenas os dois, andando pelas ruas de Oxford, um ensinando ao outro coisas como nadar, descobrir autores e livros e a esquivar-se dos punhos de seus pais dominadores. Até que um dia algo muito maior que uma grande amizade cresce entre eles. Mas então, avançamos cerca de uma década nesta história e encontramos Ellis, agora casado com Annie, e Michael não está mais por perto. O que leva à pergunta: o que aconteceu nos anos que se seguiram? Esta é quase uma história de amor. Mas seria muito simples defini-la assim.


3 comentários

  1. Ontem foi um dia importante para quem acredita que o amor seja um só e assim, respeita a todos sem distinção.
    Eu vivo dois dilemas com o tema: acreditar que essa data não deveria existir por levar comigo que amor é amor e por si só, já é o bastante. Mas também me engajo na luta, por acreditar na liberdade que cada um deva ter.
    Namoro este livro faz tempo e penso que essa forma lírica de ter colocado essa amizade que ultrapassa o tempo e em que torço eu, o amor vença, seja um dos pontos altos da trama.
    Espero de coração ler em breve e oh? Viva o amor, vivamos o Respeito acima de tudo!!!!
    Eu acredito ainda num mundo sem rótulos.
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  2. Ronaldo!
    Confesso que pelo título do livro, achei que fose um tipo de releitura de O mágico de Oz, mas pelo visto, é algo bem maior.
    Quando um livro nos toca tão intimamente, é porque mexe em nossa sensibilidade e nos faz ter a certeza de que o amor vale mesmo a pena.
    Falar de amor e mostrar o caminho de como ter uma relação duradoura e boa, é um livro refrigério.
    cheirinhos
    Rudy

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  3. Olá! Engraçado, porque me deparei com esse livro já há algum tempo e confesso que fui fisgada por essa capa maravilhosa, daí quando me deparei com a sinopse percebi que a história parecia ser daquelas que te envolve e cheia de emoções, e é claro que coloquei na lista, mas o tempo foi passando e até hoje não tive a oportunidade de ler, por isso, ao me deparar com ele aqui agora a única certeza que eu tenho é que o farei o mais rápido possível (risos), a resenha me instigou ainda mais a descobrir o que aconteceu nesses anos passados com Ellis e Michael.

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