Daqui pra baixo – Jason Reynolds

Will tem segundos para tomar a decisão que mudará sua vida para sempre. É o tempo entre o andar que mora e o térreo, dentro de um elevador metálico que range e para em cada andar. Seu irmão foi morto e seu bairro é guiado por apenas três regras: não chorar, não dedurar ninguém e vingar a morte de quem você ama.

E agora, com o irmão morto e uma arma no cós da calça, ele é obrigado a fazer o mesmo que fizeram com seu irmão: matar. Dar um tiro. Fazer desaparecer. Só que no meio do caminho, em cada parada do elevador, Will se vê confrontado com diversas figuras que, a cada andar, o fazer refletir sobre esse pacto vicioso e velado de violência.

O romance de Jason Reynolds é poderoso de inúmeras maneiras, um feito inacreditável dentro das narrativas contemporâneas.  É uma prosa poética ou uma poética narrativa, o gênero no qual se enquadra não importa muito porque a originalidade autoral talvez seja o ponto mais notadamente peculiar do enredo.

Primeiro que temos uma estória verossímil e importantíssima dentro dos debates de raça e desigualdade social. Segundo que ele caminha de maneira tenuemente brilhante pela linha do realismo fantástico, com descrições precisas que despertam no leitor as mesmas sensações provocadas no Will a cada encontro, a cada andar, a cada pessoa que entra no elevador.

É difícil falar muito do enredo e da forma como ele se desdobra página a página, porque embora seja um livro grande, ele também é pensado e escrito de um jeito diferente: mesmo contando uma estória com começo, meio e fim, ele é todo subvertido à poesia. O autor se utiliza do que se conhece e entende como poesia para dar corpo ao seu texto, de modo que a leitura acaba sendo, ao mesmo tempo, dinâmica, rápida e sucinta.

Confesso que eu tinha expectativas altíssimas a respeito do livro e sabemos bem onde isso quase sempre nos leva. Mas, para além de qualquer expectativa criada, o livro me surpreendeu desde o início – culminando, inclusive, em um final tão aterrador quanto inesperado e aberto (um dos pontos mais significativos para mim, pois soa como um convite à própria reflexão proposta).

Aterrador, sensível e absurdamente tocante, Daqui pra baixo, é uma leitura rápida, mas duradoura. Certamente é um livro que ressoará em você muito tempo depois de ser lido e fechado, muito tempo depois de ser quase esquecido. E digo quase porque é o tipo de estória que nunca sairá de você porque ela acontece em você assim como acontece para você. E para o mundo.

Boa leitura!!!

Will perdeu o irmão para a violência. Agora, precisa enfrentar sua realidade e descobrir se a vingança é capaz de aplacar sua dor.
Aos 15 anos, Will conhece intimamente a violência. Ela está à espreita no dia a dia de seu bairro, nos avisos para que não volte tarde para casa, nos sussurros dos vizinhos sobre mais uma pessoa que foi morta. Dessa vez, os sussurros são sobre seu irmão mais velho. Shawn foi assassinado na rua onde a família mora.
Contado do ponto de vista de Will, Daqui pra Baixo é uma narrativa ágil que se passa em pouco mais de um minuto — o tempo que o elevador do prédio leva para chegar ao térreo. Esse é o tempo que Will tem para descobrir se vai seguir as regras de sua comunidade ou se é possível não perpetuar o ciclo de violência.
A regra número 1 é não chorar. A número 2, nunca dedurar alguém. A terceira, a crucial: se fazem algo com você ou com os seus, é preciso se vingar. A curta trajetória do elevador é ritmada pelas paradas em cada andar e por aqueles que aos poucos ocupam a cabine e os pensamentos de Will. Cada rosto tem uma história de vida e de morte. Will, em questão de segundos, vai definir a dele.
Originalmente escrito em prosa, depois em verso, Daqui Pra Baixo faz a emoção — a confusão, a revolta, o medo — de um garoto armado que sai para vingar o irmão crescer também no peito de quem lê. Um livro impossível de ignorar.

3 comentários

  1. Olá! Eita que já estou de olho nesse livro, na verdade foi quase impossível não ser fisgada com esse enredo e essa proposta tão diferente de leitura, a cada nova resenha lida só aumenta ainda mais minha curiosidade, quem serão essas pessoas hein! Caramba não dá nem para acreditar que a história se passa em tão pouco tempo, mas já deu para perceber que temos aqui uma história maravilhosa e o mais importante emocionante (e bem perto da realidade) que infelizmente reflete o dia a dia de muitas pessoas, essa violência toda acabou me remetendo ao que o Rio vem enfrentando nas últimas décadas, a tragédia recente aqui em São Paulo, além de toda a violência que ainda (infelizmente) faz parte da rotina de grande parte da população.

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  2. Como esta não é a primeira resenha que leio desta obra, admito que não vejo a hora de poder ter essa obra em mãos.
    É incrível a forma como foi escrito, poéticamente. Um assunto tão denso, tão duro, sendo colocado assim, como pequenos fragmentos!
    Pude conferir recentemente a diagramação do livro e está lindíssima também, um trabalho excepcional da Editora!
    Uma criança tendo segundos para tomar uma decisão tão cruel. Fugir? Matar? Usar a violência em seu extremo? Ignorar tudo isso?
    Pensamentos ligeiros, sentimentos controversos!
    Espero sim, ler e ter essa obra em mãos o quanto antes!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  3. Ronaldo!
    Livros que falam sobre as desigualdades sociais, tornam-se sempre boas leituras, pelo menos para mim.
    Parece uma leitura sofrida…
    Acredito que a forma mesmo que em prosa, porém no formato de poesia, pode ser para visualizarmos como se fosse um elevador, pelo menos foi assim que senti com sua foto.
    Deve ser bem chocante e diferente mesmo, tudo em 67 segundos, uauuuuuu!
    A realidade demonstrada no livro, é a que se vive em alguns lugares do EUA, triste.
    cheirinhos
    Rudy

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