Um Milhão de Finais Felizes – Vitor Martins

Eu deveria começar essa resenha falando sobre a importância de ter a chance de ler um livro cujo protagonista é um jovem gay, com uma trama que se passa aqui no Brasil e escrita por um autor nacional, nosso. Eu deveria começar assim e, já que comecei, talvez essa seja exatamente o ponto: essa história é importante - para o mundo, de uma maneira geral.

Quem leu minha resenha de Quinze Dias sabe o quão apaixonado fiquei pelo Vitor Martins. Seus personagens têm personalidades fortes, são altamente adoráveis e sua voz autoral é autêntica e potente de um jeito leve e poderoso.

Com Um Milhão de Finais Felizes pude atestar sua sensibilidade criativa e sua aliciante saga por criar não apenas uma história, mas uma história que acontece dentro da história. Porque temos, além de tudo isso, piratas. Piratas gays! Calma, deixa eu explicar isso direito...

Jonas é um jovem que tá perdido no mundo. Sua orientação sexual faz com que ele questione sua existência e a falta de apoio dentro de casa não ajuda em nada a resolver toda essa confusão.

Daí ele trabalha num café, só que o lance é que o café é supercooooooooool, nerd e todas essas coisas. E um dia, do nada, aparece um cara bonitão - e ruivo! - que faz o garoto ficar apaixonadinho. Caidinho.

Então o Jonas começa a escrever no seu caderninho de ideias... uma história. De piratas gays vivendo um amor improvável. Só que aí, no meio de tudo isso, temos Karina, sua colega de trabalho e amigo, Dan e Isa, seus amigos da época do ensino médio e... Esse cara misterioso e aparentemente interessante. Chamado Arthur.

Pronto, está montado o cenário.

O livro é, essencialmente, completamente diferente do tom narrativo do livro anterior do Vitor. E isso é ótimo, porque embora tenha certa demarcação, traços de escritas que são particulares do autor, as histórias caminham por trajetórias diferentes.

Um Milhão de Finais Felizes tem uma história mais "pesada". Trata de assuntos que são mais caros ao drama do que a comédia. E é sobre um montão de assuntos importantes - principalmente levantou em consideração que a obra é destinada a um público YA.

Escrito sob a perspectiva do próprio Jonas, o leitor tem acesso aos seus medos, inseguranças e ao seu desejo constante de pertencimento e aceitação. Sua relação com os amigos e com a família, seu descobrimento, e, acima de tudo, sua própria busca por algo que nem sabe direito o que é nos coloca no centro de uma narrativa que nos é próxima, fatalista e verdadeira.

É uma história que diverte de um jeito mais "sério" e nos faz refletir sobre nossa própria história - estou falando na posição de um homem gay que se vê nos anseios e nas inquietações do protagonista.
E, para além de toda a beleza e maturidade da narrativa, acho que é importante ressaltar o que falei no início: representatividade importa. E saber que livros assim existem e são colocados nas prateleiras, deve nos encher de esperança e nos alertar para o poder de transformação da literatura.

Boa leitura!

Jonas não sabe muito bem o que fazer da vida. Entre suas leituras e ideias para livros anotadas em um caderninho de bolso, ele precisa dar conta de seus turnos no Rocket Café e ainda lidar com o conservadorismo de seus pais, sua mãe alimenta a esperança de que ele volte a frequentar a igreja, e seu pai não faz muito por ele além de trazer problemas.
Mas é quando ele conhece Arthur, um belo garoto de barba ruiva, que Jonas passa a questionar por quanto tempo conseguirá viver sob as expectativas de seus pais, fingindo ser uma pessoa diferente de quem é de verdade. Buscando conforto em seus amigos (e na sua história sobre dois piratas bonitões que se parecem muito com ele e Arthur), Jonas entenderá o verdadeiro significado de família e amizade, e descobrirá o poder de uma boa história.

2 comentários

  1. Fico tão feliz quando o assunto sexualidade é debatido e colocado assim, livre e sem rodeios!
    O mercado literário e do cinema, andam se abrindo a este gênero e não só as pessoas gays se sentem felizes, mas nós também, que apoiamos o ser humano. Apenas isso, sem rótulos, plaquinhas e afins!
    Somos humanos. Fato!
    Por isso, namoro este livro já tem um tempinho, até por trazer um tipo de narrativa fora do convencional. Como uma história dentro de uma história e a representatividade sendo colocada crua e nua!
    Com certeza, lerei!!!
    E oh, viva nossa Literatura Nacional!!!
    Beijo

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  2. Ronaldo!
    Tão maravilhoso encontrar um autor que traz as verdades sobre a sexualidade sem nenhuma amarra ou preconceito.
    Não tive oportunidade de ler nenhum livro do autor, mas vejo sempre indicações muito boas.
    Interessante ver como ele aborda os problemas familiares, tornando o enredo bem crível e de fácil identificação.
    Sem contar com o lado hilário, romântico e ainda o protagonista ser um escritor, fantástico.
    cheirinhos
    Rudy

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