O Oceano no Fim do Caminho – Neil Gaiman

É muito difícil falar sobre um livro que te tocou, te fez viver aventuras incríveis e maravilhosas, te fez refletir. Duas vezes mais difícil é falar sobre esse mesmo livro, cinco anos depois, quando a história continua a mesma, mas você já é outra pessoa – outras leituras já te atravessaram, outras narrativas já te causaram sentimentos semelhantes, como dizem, “outro momento”.

Li O Oceano no Fim do Caminho pela primeira vez em 2013. E lá atrás, quando ainda era um leitor “prematuro”, quando ainda me tateava em busca de qual gênero mais gostava, quais autores preferia, o descobri despretensiosamente. Ele ecoou em mim de um jeito peculiar e bonito, lembro mais da sensação do que qualquer outra coisa.

Em um projeto de reler alguns dos meus livros favoritos da vida, resolvi que o leria novamente agora – eu tinha acabado de sair de uma leitura bem mais ou menos e precisava lembrar dos verdadeiros motivos pelos quais eu amava ler. Enfim, era o momento certo: ler um livro que eu sabia que amava, embora estivesse esquecido dos motivos pelos quais amava.

Não foi apenas nostálgico (reler livros tem muito disso, né?), foi uma descoberta do que me é mais caro na literatura: a capacidade de um autor contar uma história que te faz olhar para a vida de outro jeito, com outros olhos. Neil Gaiman faz isso comigo em O Oceano no Fim do Caminho, ele me fez e me faz descobrir o prazer de ser leitor através dessa narrativa inocente e assombrosa, real e imaginativa, infantil e adulta.

O livro é essa dualidade entre o que a gente não sabe o que é e o que a gente tem nada mais do que certeza. Através do menino sem nome que volta à pequena cidade na qual passou a infância, Gaiman constrói uma aquarela narrativa que nos tira do eixo, nos faz mergulhar no oceano do título, nas emoções expostas e transcritas. Uma narrativa lúdica, que brinca com o leitor, o incita a questionar o que é memória e o que é invenção.

Eu poderia aqui fazer um resumo da história, mas acho que a sinopse já dá conta disso de maneira efetiva; então, quando sentei para escrever sobre esse livro pra vocês, o que quis passar foi exatamente as sensações que o livro me passou: me fez rir, chorar e apertou meu coraçãozinho com os punhos cerrados; me fez redescobrir a fantasia através de alegorias simples e das descrições minunciosamente autênticas; me fez entender que ler é um bocado do autor e outro bocado do leitor.

Se vocês ainda não leram Gaiman – especialmente esta obra – recomendo não apenas pelos meus motivos citados, mas porque também tenho certeza de que é uma experiência única para cada um. Apesar de ser um livro fechado em suas explicações (ainda que coisas não ditas também funcionem como recurso narrativo) acredito que cada um encontrará jeitos próprios de gostar (ou até não, tudo bem) da história.

De qualquer modo, leitura linda. Espero que vocês se encantem e, se já leram, me contem como foi isso. Adoro sentar para conversar sobre as possibilidades que a história pode ter tomado depois do seu fim.

Boa leitura!
Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete anos.
Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle, que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas, inclusive os do menino.
Ele sabia que os adultos não conseguiriam — e não deveriam — compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro oceano.

4 comentários

  1. Nossa to toda arrepiada com essa resenha meu Deus. Realmente a sinopse já te faz querer devorar essa leitura de uma vez sem parar pra nada.
    Concordo muito que a nossa visão da leitura muda a cada ano que se passa e toda vez que a gente ler um livro novamente mais coisas são absorvidas, sejam elas da própria premissa como as lições de vida.
    Eu não conhecia esse autor nem essa obra e to aqui pensando no quanto estou encantada por ela antes mesmo de começar. Me pareceu ser um livro muito sensível daqueles que todo mundo deveria ler um dia e levar consigo os aprendizados que ele tem.

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  2. Ronaldo!
    Nunca li nada do autor, mas já li muita resenha favorável sobre outros livros.
    Amo literatura fantástica e confesso que fiquei um tanto intrigada com sua resenha, pois fala das aventuras imaginárias, ao tempo que de personagens nostálgicos… Uma mistura estranha.
    Quero mesmo poder avaliar.
    “Se você realmente quer algo na vida, tem que lutar por isso.” (Homer Simpson)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA JULHO - 5 GANHADORES - BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  3. Mesmo que já tenha lido algumas obras do autor, vou confessar que nem havia visto este livro pelo mundo literário,então, imagina minha alegria ao ler esta resenha!
    Cada livro é contado e sentido de diversas maneiras, ainda mais quando falamos de pessoas, que graças a Deus, são diferentes.
    Este enredo parece que literalmente joga o leitor na torrente de emoções, nesta volta ao passado, no estar lá e sentir tudo que o "garoto" sentiu.
    Com certeza, espero muito ter a oportunidade de conferir este achado!
    Beijo

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  4. Olá Ronaldo,
    Engraçado como uma única leitura pode nos causar novas sensações dependendo de quando, e do que estamos vivendo não é? E até onde eu sei, mesmo não lendo nenhuma obra do autor, Neil sempre acha uma amor de invadir o leitor com seus livros...
    A história em si mostra uma criança perturbada por fantasmas, ou algo assim, pelo menos foi o que entendi, mas, acredito que muitas das coisas que o autor passa fique nas entrelinhas, por isso cada um sente dente de uma forma, enxerga a história de uma forma!
    Bem interessante a forma que descreveu como foi para você, parece um enigma, e ao mesmo tempo desperta a curiosidade de quem lê! Adorei!
    Beijos

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