Uma experiência Extraordinária

Falar sobre Extraordinário é fácil e difícil. É fácil porque a escrita da R. J. Palacio é fluida, palatável, corre como um rio a favor do fluxo. É difícil porque a história, apesar de bonita, machuca, é profunda e densa, como o mesmo rio fazendo o caminho contrário. Então é como se os dois adjetivos colidissem e resultassem nesta história: extraordinária.

Resumindo por menos Extraordinário conta sobre o Auggie. Conta sobre a família do Auggie, os amigos do Auggie, a cruel, amável e (in)comum vida do Auggie. Ele é um garoto de dez anos que faz coisas normais com o acréscimo de que toda sua a trajetória sempre foi marcada pelo seu cartão de visita mais vistoso: uma deformidade no rosto causada por uma síndrome e por cirurgias cíclicas que precisou fazer em sua vida e longa vida.

É sobre isso. E também é sobre amor, relações, preconceitos, julgamentos, perspectivas, empatia. É sobre empatia! Uma história linda sobre enxergar a vida pelos olhos de uma criança: os detalhes singelos, a dor do deslocamento no mundo, os desafios de encarar a escola pela primeira vez.

Falando em primeira vez, a primeira vez que li o romance foi em 2013. Lembro-me exatamente da sensação das lágrimas escorrendo pelo rosto e molhando as páginas em que o garotinho apenas queria se encolher na cama e sumir. Deixar tudo para trás porque, às vezes, o mundo pesa mais do que a gente acha que pode suportar.

Aprendi muito ali: com o Auggie aprendi que o medo por ser encarado de frente; com seus pais aprendi que pais são pais, quase sempre querendo nos proteger dos rugidos das pessoas más; com sua irmã, Via, aprendi que se a gente mergulhar fundo vai encontrar uma outra versão dos fatos; com seus amigos aprendi que crianças são imprevisíveis, corajosas, cruéis, bonitas e carregam e sabem plantar melhor do que ninguém o significado de empatia. Empatia!

Enfim, aquela história não apenas me atravessou, ela ficou me atravessando por anos depois. E anos depois, 2017, nova leitura. Desta vez eu mais velho, supostamente mais maduro e mais preparado. As palavras da Palacio novamente reviraram algumas certezas e me fez pensar em sobre como a gente se acostuma a julgar os outros mais pelo que eles aparentam, do que pelo que são.

A autora, não contente com o mosaico narrativo que criou – dando voz a personagens diversos e fragmentando a história em perspectivas várias – ainda lançou mais três contos reunidos em outro livro: Auggie e Eu. Um dos contos inclusive é sob a ótica de um dos personagens mais controversos e odiosos de Extraordinário: Julian, o líder do grupinho que mais pratica bullying com o Auggie.

Reli o livro agora em virtude do filme. Gosto de sentir pelas palavras antes de ver pela tela, então fui revistar a história antes de assistir. E quanto sentei no cinema, estava com a sensação de que a história poderia ganhar novos contos, se expandir, me atingir de outras maneiras que não apenas as do livro.

Dito e certo. O filme é tão infinitamente bonito, singelo e importante quanto o livro. Importante! Discute temas que a sociedade deveria atentar e que as escolas, mais do que quaisquer outros grupos, precisam pôr luz. Conversar. Promover.

O filme inteiro carrega a essência da história da Palacio. Algumas adaptações foram feitas, alguns diálogos incluídos, algumas cenas cortadas, mas está lá: a lição, a sagacidade do pai, o amor da mãe e da irmã, a empatia e a amizade dos novos colegas da escola. Tudo se desenrolando na tela em interpretações que fazem rir, chorar e querer abraçar quem está ao lado.

Uma experiência extraordinária. 

O que resta dizer agora... Bem, levem crianças para ver o filme. Leiam o livro. Leiam o livro para o maior número de crianças. Indiquem a história. Faça com que o mundo tenha acesso ao Auggie e a tudo que ele representa.

No fim das contas, a gente aprende, ensina e ainda descobre que enxergar o outro por dentro é fácil e difícil. Fácil porque só precisamos nos dar a chance. Difícil porque para conseguir essa chance é necessário estar aberto, disposto e pronto.
Estejam prontos!

August Pullman, o Auggie, nasceu com uma síndrome genética cuja sequela é uma severa deformidade facial, que lhe impôs diversas cirurgias e complicações médicas. Por isso ele nunca frequentou uma escola de verdade... até agora. Todo mundo sabe que é difícil ser um aluno novo, mais ainda quando se tem um rosto tão diferente. Prestes a começar o quinto ano em um colégio particular de Nova York, Auggie tem uma missão nada fácil pela frente: convencer os colegas de que, apesar da aparência incomum, ele é um menino igual a todos os outros.
Narrado da perspectiva de Auggie e também de seus familiares e amigos, com momentos comoventes e outros descontraídos, Extraordinário consegue captar o impacto que um menino pode causar na vida e no comportamento de todos, família, amigos e comunidade - um impacto forte, comovente e, sem dúvida nenhuma, extraordinariamente positivo, que vai tocar todo tipo de leitor.

3 comentários

  1. Ronaldo!
    Leio sempre pelos blogs que visito, falando sobre o quanto é emocionante a experiência de ler Extraordinário e todos os outros livros relacionado a Auggie, mas ainda não tive oportunidade de ler, acredita?
    Quero muito poder ver o filme também, já até comprei uma caixinha de lenços(kkk...), porque dizem que é emocionante, porém só irei asistir, depois de ler o livro para não tirar a graça.
    Um final de semana abençoado!
    “Desejo a você e à sua família um Natal de Luz! Abençoado e repleto de alegrias. Boas Festas!” (Priscilla Rodighiero)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA dezembro 3 livros + 2 Kits papelaria, 4 ganhadores, participem!

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  2. Nossa, eu já li e amei esse livro. Me fez até chorar! Imagina só quando eu assistir ao filme? Estou anciosissíma!!!

    Abraços,
    Daniele

    http://absortoemlivros.blogspot.com.br/

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  3. Tenho este livro já faz algum tempo, porém não sei dizer o motivo exato, mas sempre deixei a obra de lado, e acabei não lendo. Entretanto prometo que no ano 2018 irei concluir a leitura, e me aventurar nesta obra, que antes imaginava que tinha apenas a perspectiva da criança, no entanto percebi pela sua resenha que vai além disto. Iremos nos deparar com a estória dele, mas também sua família, e amigos, dentro de seu cotidiano, que ira nos fazer sentir um misto de emoções. Desde empatia, alegria, mas também tristeza, angustia em pensar como a sociedade pode ser tão cruel com as pessoas, desde da infância. Gostei muito da sua comparação ao filme, pois podemos perceber que a obra não perdeu sua essência, e vem trazer com mais profundidade e expansão esse sentimento que a autora tenta transmitir no seu livro. Queria muito ter a oportunidade de assistir ao filme em família, levar minha mãe, e minha irmã de 9 anos para vermos em conjunto, e podemos questionar essas cenas, que acredito que seja a realidade de muitos indivíduos, principalmente o bullying.

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