Por que a resistência da leitura dos clássicos?

Olá! Meu nome é Patricia, e sou uma leitura voraz. Leio de tudo um pouco, dependendo muito do meu estado de espírito do momento, porém dois únicos gêneros que independe disso, são os romances de época e os clássicos. Este último me inspirou o artigo de hoje em homenagem ao aniversário do blog Sempre Romântica da minha amiga, Leninha.

E sendo uma apaixonada por clássicos, gostaria que tivessem mais publicações no Brasil, mas o pouco interesse dos leitores tem obrigado às editoras que predominante publicam clássicos, irem para outros gêneros literários para sobreviver. Ou simplesmente publicar sempre os mesmos clássicos, até porque sabem que uma parcela de leitores irá adquiri-los. Um exemplo disso são as obras de Jane Austen, que existem milhares de reedições, pois tem um público fiel da autora que se interessa por ter variadas edições, isso não é uma crítica, até porque faço parte desta parcela (rsrsrs).

Por que resistir aos clássicos? A pergunta seria, porque você não lê clássico? A resposta mais habitual seria: “Porque são chatos, textos rebuscados, cheio de metáforas em relação a assuntos delicados que eram repugnados pela sociedade da época, ou seja, textualmente não é claro, e muitas vezes morosa a leitura.” Essa seria as variadas respostas. Por outro lado, podia ser simplesmente porque nunca se interessou, ou melhor, porque ninguém talvez não o tenha estimulado a leitura. E por esse caminho que irei me basear na falta de estímulo, sei que existem outros motivos, mas vamos nos ater neste.

Por exemplo, na escola, o professor, pelo menos na minha, não estimulava a leitura, simplesmente nos obrigava a ler determinados tipos de livros, em sua maioria, clássicos da literatura brasileira. Sou uma adoradora de clássicos, mas basicamente os estrangeiros, os nacionais até certo tempo tinha uma implicância, com toda a certeza devido à obrigatoriedade.

E talvez outro motivo seja em casa, no meu caso, meus pais se interessaram nas melhores escolhas de leitura, iniciei aos 10 anos, lendo dois livros: um de literatura estrangeira, Pollyanna (Criança/Moça) da autora Eleanor H. Porter de 1913, e outro de literatura nacional, Uma Rua como Aquela da autora Lucília Junqueira de A. Prado de 1972. O primeiro era um romance juvenil, e o segundo abrangia vários outros assuntos.

Depois destes dois livros eu queria mais... foi quando perguntei para um professor de literatura o que me indicaria de romances, e me indicou, Jane Austen, e a partir daí não parei mais... Talvez a combinação dos dois fatores citados acima, sendo que nenhum momento me foi imposto ler livros,  que não vejo livros clássicos como algo tão chato ou aterrorizante. 

Outro exemplo de estímulo que desmistifica o bloqueio em relação aos clássicos, foi na época de Crepúsculo, duvido que alguma fã da série de livros, não foi correndo atrás do O Morro dos Ventos Uivantes, depois que o casal Bella Swan e Edward Cullen se referia a ele? Na época eu lembro que quase todas as editoras publicaram o romance escrito em 1847 por Emily Brontë, na realidade o único romance escrito pela autora.

Mesmo não concordando que O Morro dos Ventos Uivantes seja romântico, mas a qualidade do livro está no fato de que a autora expõe os defeitos dos protagonistas, sem querer justificá-los ou defendê-los, na verdade o final dos personagens foi de acordo com suas atitudes no decorrer da narrativa.

“No fim das contas, precisamos zelar por nós mesmo; os mansos e os generosos só parecem demonstrar um egoísmo mais justificável que os autoritários.”
(retirado do livro O Morro dos Ventos Uivantes, pág. 81, Nova Cultural)

E o mais recente sucesso literário, Cinquenta Tons de Cinza, quando Anastacia cita, Tess dos D’Urbervilles (1892), como sendo um dos seus romances favoritos, e tudo bem que a autora E.L.James o colocou numa conjectura errada, que deve ter feito o autor do livro, Thomas Hardy, dar piruetas acrobáticas no túmulo. Mas, independente disso, teve um interesse em relação ao livro por um determinado grupo de leitores, até que a Editora Pedrazul o publicou em 2015.

Quando refiro o erro foi o paralelo que a autora, tentou fazer entre Tess e Anastacia, mas em minha opinião são situações completamente antagônicas. Enquanto Tess foi submetida a uma violência sexual não consentida, e todos os infortúnios da personagem, não tem comparação com a situação de Anastacia no livro, ou seja, se foi isso que a autora quis fazer a ligação. Mas Tess dos D’Urbervilles é um livro para leitoras que adoram um excelente drama. Põe Jojo Moyers e Nicholas Sparks no chão. Rsrsrs

“Por que deveríamos por fim a toda essa doçura e beleza?!”, ela implorava. “O que tiver que acontecer, acontecerá.” E, olhando pela fresta na veneziana: “Lá fora, há apenas tormentos, aqui dentro, há a felicidade.”
(trecho retirado do livro, Tess dos D’Urbervilles, pág. 344, Editora Pedrazul)

Está tudo na base do estímulo e instigar o leitor ter interesse na leitura, despertando seu lado curioso, se eu contasse para vocês que os clássicos podem contar uma história dentro de outra história. Todos os autores atuais se basearam em outros autores, certo? E óbvio. Mas você leitor não tem interesse em alguns clássicos que iniciaram tudo???

Vocês sabiam que o pioneiro dos romances românticos, aqueles de mocinhos regenerados, que pipocam na literatura atual, e que nós amamos???? Tenho certeza que virá a mente várias autoras, ou a certeza absoluta que foi uma mulher, só pode ser uma mulher, né??? Homens não iriam escrever algo assim, com certeza não... Com certeza sim, pois foi um homem, ou melhor, um senhor, já que Samuel Richardson estava na faixa dos 50 anos, quando em 1740, publicou seu romance epistolar (narrativa através de cartas), “Pamela: A Virtude Recompensada” foi publicada no Brasil por duas editoras: Pedrazul e Martin Claret.

Romance foi um sucesso na época, e ao mesmo tempo tão polêmico, que o livro entrou na Index Librorum Phohibitorum, uma lista estabelecida pelo Papa contendo os nomes dos livros que os católicos não podiam ler, o que obviamente aumentou a curiosidade e a popularidade do livro.
Mas era um livro bastante polêmico para época mesmo, e talvez causasse um mal-estar hoje também devido todo esse movimento feminista. Já que conta a história de Pamela Andrews que sofre assédio constante do seu patrão, o Mr. B (o nome é abreviado, porque se comenta na época que era uma pessoa conhecida da sociedade). Porém de assédio, e devido o comportamento da protagonista, vira amor... e transforme um pouco a narrativa, mas tudo via narração de Pamela através de cartas para os pais. Livro muito interessante.

"Presunção, vocês irão dizer; e é, mas o amor não é uma coisa voluntária: amor, eu disse mas espero que não, pelo menos não espero que tenha ido tão longe a fazer-me muito desconfortável; porque não sei como veio, nem quando começou, mas rastejou, rastejou como um ladrão sobre mim; e antes que eu soubesse o que estava acontecendo, parecia amor."
(retirado do livro Pamela: Uma Virtude Recompensada, pág. 188, Editora Pedrazul)

As obras de Samuel Richardson foram fonte de inspiração de Jane Austen, era seu autor preferido, e vários livros da autora, foram baseados em suas obras, tanto que dizem as mas línguas que Mr. Darcy, é um Mr. B mais lapidado.

Poderia citar outras obras que talvez despertasse interesse, como Belinda, da autora Mary Edgeworth publicada em 1801, que dentre alguns assuntos polêmicos, trata sutilmente de uma relação intrarracial, e seus personagens com comportamentos bastante ousados para época, tudo bem mais às claras, sem tantas metáforas para esconder. E a tradução da Editora Pedrazul está primorosa.


“Perdoe-me por lhe mostrar a simples verdade; a falsidade bem-vestida é uma personagem muito mais apresentável.”
(retirado do livro Belinda de Maria Edgeworth, pág. 59, Editora Pedrazul)

O artigo já está enorme, mas poderia escrever páginas, e páginas de sugestões de obras interessantes, porque os clássicos são obras para serem lidos não como simples livro de história, mas para adquirir conhecimento tanto da época na qual foram escritos, como abranger o nosso conhecimento literário. Mas não quero impor nada, apenas que dê uma chance em algum livro, esqueçam o texto moroso, e olhem com outra perspectiva, talvez consigam ler algum clássico literário que adapta ao seu gosto. Mas se já tentaram, e realmente não gostaram, sem problemas, todos os gêneros de livros merecem serem lidos, e cada um escolha o que lhe dê mais prazer de leitura.

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Um comentário

  1. Patrícia!
    Entendo bem seus motivos em falar em relação aos clássicos, mas como você, gosto de lê-lo sempre que tenho oportunidade.
    Confesso que na adolescência tomei abuso, porque a escola 'obrigava' que a leitura fosse feita e nada obrigado, presta, né?
    Depois, já mais madura, aprendi a valorizar primeiro nossos autores nacionais clássicos e depois, os internacionais, daí é só festa.
    Pena que poucos são os clássicos internacionais editados no BRasil.
    Vamos torcer para que cheguem mais...
    “Só a mágoa deveria ser a instrutora dos sábios; Tristeza é saber.” (George Lord Byron)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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