Uma coluna para chamar de minha, com Vivi Lima

Está no ar uma novela bem divertida chamada “Êta mundo bom!” A história traz à tona uma espécie de filosofia do otimismo cujo lema é “O que acontece de ruim na vida da gente é para melhorar”. De saída quero evidenciar essa frase, pois ela encontra respaldo em mim e no que vivi no último ano.  Quanto à novela, basta acompanhar as sinopses existentes no Google para inteirar-se do que se trata.

Nada mais natural em nossa existência do que tê-la acompanhada de mudanças inesperadas e nem sempre desejadas. O tempo cíclico da vida é mesmo assim: venturas e desventuras podem se alternar ou acontecer ao mesmo tempo agora.
Mas, veja você: um grande sábio, o rei Salomão, escreveu que na vida há tempo para tudo. No caso de se desesperar e começar a achar que a vida escoa pelas mãos enquanto você se debate confinado a um problema, é bom se lembrar de que há tempo para tudo, que tudo passa e resta a você aprender a passar bem por tudo isso. É aprendizado.

Acontece que o caráter dinâmico da vida nos serve de amparo nos maus momentos. Afinal, viver confinado e indefeso diante de um revés faz um mau danado à sanidade mental, física e emocional.  Sem discordar do sábio, eu penso que, ainda que os acontecimentos bons e ruins possam nos acometer em episódios intervalados, emocionalmente se dá de outro jeito.  A nossa reação seja de alegria, de tristeza - ou sabe-se lá do que mais - faz um novo arranjo e embala um punhado de emoções no mesmo pacote. É um embolado confuso, é verdade. Mas, não se preocupe: a alma dá conta de rir e chorar com os mesmos olhos.

Eu passei por momentos ruins no ano passado quando tive de lidar com o meu pai seriamente enfermo. Aconteceu em julho. E hoje... graças ao Senhor pela passagem do tempo! Imagine se ele fosse estático? Como viver sem ser o que eu sou hoje, com o que aprendi e levo adiante para compartilhar com o mundo? Pois é. Meu pai se recupera bem. Fomos todos mudados pela experiência. Em benefício da saúde e qualidade de vida dele, até mudamos de casa. Casa que estou curtindo muito! Isso não quer dizer que foi bolinho. Até hoje me sinto sendo levada por um turbilhão.

Minha vida mudou um tantinho. Interrompi planos para me entregar ao tempo do meu pai. Nos momentos mais difíceis, deixar-me ser levada pelo turbilhão foi tida por mim como uma medida de proteção. Depois do susto, quando passei a cuidar do meu pai em casa (pois ele passou dez dias na UTI), eu queria que tudo voltasse à normalidade (leia-se: a um estado que já não existe mais).  Mas, o que sentia mesmo era a força do turbilhão a me levar não sabia sequer para onde. E, a meu ver, enquanto a visão é pequena, não é mesmo para saber. Porque saber requer transformar o sabido em algo proveitoso e contributivo. Caso contrário, é fonte de ansiedade e atraso de vida.

Experiência minha, a qual não imponho a ninguém, a tomada de consciência veio sem força de ordem. Em mim ocorreu naturalmente o apelo de aquietar-me. Engana-se quem relaciona tal conceito à inércia. Ao contrário, aquietar-se exige esforço de movimento. É claro que envolve muito mais uma disposição de espírito do que do físico, contudo, é sempre bom lembrar que o corpo fala o que espírito diz. Porque aquietar-se é não dar pelota para as pressões externas e internas, principalmente. Contudo, a tomada de decisão requereu mudanças para melhor na minha atitude e na minha visão de mundo.
Ainda estou patinando nesse lance de aquietar-me. Mas sem pressão. Eu que acredito que há esperança até na morte, creio que “o que acontece de ruim na vida da gente é para melhorar”. Ainda que tudo pareça piorar...

Não considero a filosofia “candinho de ser” impraticável e fora de lugar. Crer nela não significa pensar que as circunstâncias ruins desapareçam à toque de caixa. O que muda é o nosso estado de ânimo diante delas. Sim, entraria na fila de coisas boas o quanto pudesse. Porém, não estou falando de sonhos nesse texto e sim de outra matéria. Da vida. E ela diz que a visão de longo alcance não é para enxergar o que nos acontece, mas o que está para além disso.  Mesmo porque esse modus vivendis do Candinho para existir não depende de nada que não aconteça dentro de nós mesmos.

Trocando em miúdos, é questão de escolha. Porque tempo há para tudo e a gente dá o nosso jeito de passar por ele de forma bem conservada mental e fisicamente. No meu caso, ainda estou enfrentando as rebarbas do turbilhão. Nunca quis estar lá, assim como ninguém quer. Mas sinto-me grata por tal acontecimento ter me ensinado coisas as quais não seria capaz de aprender sem ter caído nele de mala, cuia e coração.
Até a próxima!

18 comentários

  1. São experiências de vida que nos fazem crescer em todos os sentidos. De tudo, leva-se um aprendizado.

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  2. Estava com saudade da minha amiga Vivi, sempre com seus textos inspiradores. O espaço é seu, use e divirta-se nele.
    Beijo enorme!

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    1. Obrigada, Leninha! É bom estar de volta. Beijocas!!!

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  3. Que maravilhoso é o dom da palavra, quando capaz de expressar os sentimentos e as fases de nossa vida em forma de aprendizagem. Somos dores e alegrias, amplitude e restrição, sombra e luz, para um dia sermos evolução. É palavra que expressa a incomparável tela da vida, enfim, tudo que abrigamos e, ainda, tudo que se estende para muito além do que somos e entendemos. Bom vê-la de volta!

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    1. Que maravilhoso é o dom da palavra! Bruna, você condensou tudo o que eu quis dizer nesse belo, inspirado e sábio comentário. Obrigada pela valiosa contribuição. Beijos!

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  4. Aprendemos com tudo, se nos permmitirmos.

    Ótimo texto!

    Beijos,
    Carissa

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  5. Não assisto a novela "Etâ mundo bom!" mas acompanho pelos comerciais e sei mais ou menos do que se trata a trama... Mas, em relação ao lema "O que acontece de ruim na vida da gente é para melhorar", até hoje, pelo menos não me recordo, não me deparei com nenhuma situação igual a essa em minha vida... Contudo, tento ver o lado bom das coisas, para exemplificar: o local onde eu trabalhava anos atrás fechou e por isso fiquei sem emprego, na mesma época meu avô ficou doente, trocava o dia pela noite, e eu e minha mãe passavamos a noite toda acordadas cuidando dele... não sabíamos que esses eram os últimos dias de vida dele... e eu não teria trocado esses momentos por nada desse mundo, nem mesmo por um emprego. Hoje, com um nó na garganta sempre que me recordo dessa época, agradeço a Deus por está presente quando ele mais precisou, fiz o máximo para deixá-lo confortável, nossa relação se estreitou ainda mais... esse para mim foi o lado bom de uma situação difícil; tento empregar sempre essa filosofia quando estou diante de adversidades...
    Mas concordo com você, a vida é uma aprendizado, cabe a todos nós tira proveito de cada situação...
    Eu amei o seu texto de retorno. Desejo saúde ao seu pai, e que possamos encarar as desventuras da vida com sabedoria e serenidade.
    Abraços!

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    1. Oi, Any, obrigada pelo depoimento enriquecedor. Identifico-me totalmente com esse registro emocional relacionado ao seu amado avô. Passei isso com minha saudosa mãe e agora com meu pai e, assim como você, coloquei-os em primazia na minha vida. Tal como você, considero esses momentos como tempo ganho. Diante dos revezes da vida, de alguma forma saímos melhorados e aperfeiçoados quando sabemos transformá-los em matéria aproveitável em nossas vidas. Um grande abraço!

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  6. Mana, que bom que em meio a tudo isso você conseguiu ver o lado bom das coisas e esse texto mostra que tudo o que passou veio pra te transformar em uma pessoa melhor ^^ Parabéns pelo lindo texto.

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  7. Vivi, sempre sábia e muito articulada... Uma delícia, mesmo!
    Uma coluna muito interessante já que estou passando por momentos críticos com minha mãe. Nenhuma novidade para mim que por não ter tido filhos sou a cuidadora oficial da família. Penso que foi a forma perfeita do Senhor justificar a minha existência na terra, e por mais que me sinta aterrorizada, com medo de não dar conta do recado, sigo em frente com a certeza de tempos melhores. Aprendi, depois de muitas perdas que a morte é a recompensa da vida. O que você chama de aquietar, eu chamo de período de latência. É o tempo em aparentemente nos movemos através de gelatina para cumprir todos os prazos e tarefas.
    Obrigada, minha guru virtual, por abrir seu coração e dividir conosco um pouco da sua rotina.
    Só não prometo acompanhar a novela... Sinto muito, mas perdi esse hábito durante o tempo que trabalhei no período noturno.
    Um abraço enorme para seu pai, que ele melhore cada dia mais, e todo o meu carinho para você!
    Bjks

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  8. Sueli, o seu testemunho deixou-me emocionada. Porque vejo em seu relato a trajetória de vida de uma tia muito querida. Desde que me entendo por gente, sua missão, nesse mundo, foi a de servir a outrem. Cuidou dos meus avós e de minha outra tia deficiente visual por longos e sofridos anos. Hoje todos os que foram cuidados por ela já não estão mais no plano terrestre. Mas a lição de cuidado e misericórdia permanece vívida em mim. Lição essa acrescida de seu relato cujos ensinamentos reterei em minha mente e coração daqui por diante. Obrigada, querida e um beijo grande!

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  9. Nossa,esse tema que você decidiu explanar é tão interessante e tão real,que só pelos comentários já se percebe isso:

    Olha o tanto de depoimentos aí,muito emocionantes diga-se de passagem,e que ótima coluna essa,pois nos ajuda a se integrar não só como leitores,mas como seres humanos que compartilham tristezas iguais de situações diferentes! Até visualizei a Sueli aí nos comentários,uma pessoa que via bastante no Skoob,bom revê-la,gosto muito da serenidade que ela transmite!

    Enfim,isso me faz lembrar um fato que não aconteceu comigo diretamente,posso assim dizer,mas que observo a mesma situação: meu primo,acabado de se formar em engenharia,ainda não tinha feito 6 meses dcasado,sofre um acidente de moto e morre. Nossa,como era um pessoas nova e com um futuro brilhante pela frente todo mundo ficou sem chão,e mesmo eu não tendo contato com ele á muito tempo,só o vi quando era criança,eu senti demais a morte dele,pelo fato de pensar em tudo o que ele perdeu,em tudo o que ele tinha para realizar ainda,nossa,é uma tristeza infundada sabe,dói no fundo do coração isso :/ Mas,dor pior foi do pai dele,meu tio,que até hoje não se conforma com isso...bom,ao meu ponto de visto,a questão não é tanto se conformar,e sim como você pode lidar com isso da melhor forma possível,e vejo que isso falta nele,pois até hoje ele remoe isso,o que vêm prejudicando sua relação com o resto da família e o pior de tudo é que ele culpa Deus pelo acontecimento. Não quero entrar no mérito de religião,mas realmente é triste quando você chega nesse ponto,ou melhor,quando você permanece nesse ponto mesmo com o passar do tempo. Isso o destrói mais do que se ele tentasse viver com as memórias boas do seu filho,e pensar que ele gostaria que seu pai seguisse em frente,pois não há nada mais que se possa fazer depois que morre!

    É complicado,mas sempre torço que possamos tirar o melhor do pior,pois se não nunca conseguiremos viver,isso é um FATO!

    Para finalizar,quero dizer que gostei da forma que você conseguiu absorver a mensagem da novela,e olha aí,já é um exemplo de pegar sempre o melhor das coisas hehe

    Outra coisa,de verdade,melhoras para seu pai,que Deus lhê-de muita saúde =D

    PS: Para finalizar,vou destoar um pouco do tema,mas queria falar,eu conheço a tia do protagonista dessa novela,ela congrega na mesma igreja que a minha e pelo que ela fala ele é muito gente boa!!
    Bão

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    1. Daniele, obrigada por trazer mais clareza ao debate por meio do seu depoimento. De fato, as crises que nos abalam e nos fazem sofrer dolorosamente vêm para bem, vêm para a nossa cura por mais paradoxal que isso possa parecer. Passar por reveses pode mudar a nossa perspectiva diante de um problema ou situação que, antes, parecia um gigante invencível. Há muito de beleza em tudo isso, embora estejamos falando de dor e sofrimento. Poder alcançar aquela luz no fim do túnel produz uma felicidade incomensurável, não é mesmo?.

      Obrigada pelas palavras de apoio e, claro, gostei de saber que o protagonista da novela é gente do bem. Beijocas!

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  10. Vivi, bem-vinda de volta, amiga!

    Sei bem o que é essa sensação. A princípio não concordo muito com esse lado meio Poliana da vida, porque sofrimento é coisa que ninguém gosta. Mas depois vi que você tem razão. Sempre saímos fortalecidos das experiências ruins.
    Fica aqui a minha torcida para que seu pai esteja 100% em breve, e você possa enfrentar as novas etapas que a vida te apresenta.
    É muito bom voltar a ler o que você escreve. Beijos!

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    1. Obrigada, my dear cupcake! Interessante a menção do jeito Poliana de encarar as coisas. Eu vejo muito mérito no olhar otimista porque tem um quê de realista. Na minha visão, o otimismo, que não se atrela a uma concepção ingênua da realidade, significa reconhecer que o mundo e a vida não são um mar de rosas. Significa não se prender às experiências porque a vida é movimento. Sabendo que, lá mais adiante, as experiências assumirão significados diferentes do que pensávamos anteriormente. Por isso, considero importante que o nosso modo de ver não seja fixo, mas sim que renove o nosso passo a cada dia. Obrigada pelo apoio, queridaça! Beijão!!!

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