Trio de Vênus - Patricia Gaffney, por Sueli

Será que o luto pode durar uma vida inteira? Essa é a pergunta que Carrie tenta responder depois da morte repentina do marido. Vive luto e culpa em dobro: lamenta a perda do cônjuge tanto quanto o fim do amor — desgaste emocional ocorrido muito antes de o coração dele se exaurir. Lutando para seguir em frente, tendo que sustentar financeira e emocionalmente a filha de quinze anos, uma menina adorável e cheia de vida, Carrie, aos poucos, vai se livrando da tristeza e da depressão para começar uma vida nova.
O principal problema, porém, é a mãe, Dana, uma mulher determinada e esnobe, que procura proporcionar o melhor à neta. Pelo menos na opinião dela. Com essas histórias, a autora explora dicotomias dos relacionamentos femininos - lágrimas e risos, desespero e esperança, incompreensão e compaixão, raiva e amor.

Todo leitor tem seus escritores preferidos. Aqueles que sempre terão preferência em detrimento de outros menos cotados. Eu conheci Patricia Gaffney através de um livro traduzido por fãs, e percebi que ela era diferente. Suas cenas elaboradas e seus personagens fortes possuem uma intensa carga dramática. Algum tempo depois eu li “As Quatro Graças” e me apaixonei definitivamente!

Esta semana, após a decepção com um livro altamente recomendado, eu precisava desesperadamente de um livro com um pouco mais de conteúdo. E, não duvidei quando vi que tinha “Trio de Vênus”, da mesma autora, em minha estante. Foi amor às primeiras linhas! Fez-se a magia... Só não consegui ler de uma vez porque ando muito atrapalhada. Mentira!! Eu sou atrapalhada sempre. Só que ando bem pior ultimamente....

O livro é estupendo, e vai estar entre os dez mais desse ano em minha lista particular. Nele encontramos lições primorosas de vida e, se você estiver “antenado”, algumas respostas para questões pessoais importantes, independentemente da sua faixa etária.

Três mulheres, três destinos e três experiências fascinantes. Talvez, Gaffney tenha distribuído em três personagens distintas os medos inerentes a cada faixa etária da vida de uma mulher.

Patricia Gaffney não faz concessões às fantasias românticas, muito pelo contrário. Neste livro você vai encontrar densidade e várias questões fundamentais, esteja você com quinze, quarenta e dois ou setenta anos, como no caso de Ruth, Carrie ou Dana.

A história começa com a morte de Stephen, o marido distante de Carrie, e o pai ausente de Ruth, uma adolescente adorável, cuja maior preocupação é a proximidade dos seus dezesseis anos, e com isso a possibilidade de tirar a carteira de habilitação. Duas mulheres – mãe e filha, com grandes dificuldades para superarem o luto e encararem a tarefa de coordenar as dificuldades financeiras que a morte prematura de Stephen ocasionou.

Porém, Patricia Gaffney resolve dificultar a trama e insere aquela que seria a personagem mais colidente - Dana, a mãe controladora de Carrie, e cuja personalidade não se modifica, mantendo-se coerente durante as mais de quinhentas páginas desse romance intenso e emocionante. Gostei muito dos questionamentos e terrores que acompanham a velhice de Dana e suas amigas, e que ela nos transmite sem nenhum pudor ou censura.

Os protagonistas masculinos estão presentes, mas o forte de Gaffney é esmiuçar as relações de amor e amizade entre mulheres. É um livro cheio de analogias e dicas sobre as coisas que verdadeiramente nos importam, e como podemos superar até mesmo questões religiosas, desde que estas venham acompanhadas de uma mensagem humanitária e compassiva.

E, sem dúvida nenhuma, a parte que mais me emocionou foi o comprometimento de Carrie, uma artista em estado latente, aceitando confeccionar os animais que fariam parte da Arca de Noé.

Sim, leitor, mesmo Carrie não sendo religiosa praticante ela aceita o desafio de ajudar Eldon, um homem com um passado desregrado, e que em um momento de grande dificuldade faz um acordo com a morte, mas uma aliança definitiva com Deus! E, por esse motivo ele funda uma seita chamada “Os Arquistas”.

Após muitos anos, e aquela primeira enfermidade ter sido superada, no presente, ele encontra-se novamente enfraquecido e necessita construir a Arca de Noé que havia prometido de acordo com as especificações bíblicas, já que lhe restava pouquíssimo tempo de vida. É quando seremos apresentados a Jess, um ex-namorado de Carrie, e que ao saber das dificuldades pelas quais mãe e filha estão passando resolve incluir Carrie nesse projeto lindo e louco...

Ela rejeita a ideia e procura outra forma de manter-se à tona, mas quando tudo dá errado, ela aceita, a princípio relutante, mas depois de entender quanto amor esse projeto envolvia, abraça a tarefa com orgulho, seriedade e alegria, auxiliando Landy, o filho que mesmo sofrendo de artrite, jamais imaginou contrariar a vontade de seu pai, Eldon.

Claro que esse comprometimento e proximidade ocasionam a renovação dos sentimentos de Carrie e Jesse, que na verdade nunca se apagaram, e é aí que começa a encrenca séria.

Durante a vida de uma pessoa muito lixo emocional se acumula, aumentando o ruído em suas relações familiares. Quanto mais próximos, mais lixo e ruídos nas comunicações. Quando possuímos poder econômico para uma ajuda terapêutica, é fácil sobrevivermos relativamente saudáveis. Porém, caso não seja possível, dê graças aos céus se você tiver mulheres como Dana, Carrie e Ruth, a adolescente que em sua fúria descontrolada ocasionou o caos que renovou as relações e colocou essa família em ordem.

Eu gosto muito da forma como Patricia Gaffney escreve sobre as mais variadas formas de amor, e nos faz questionar sobre o sentido da vida. De como é perfeitamente aceitável nos sentirmos desconfortáveis em nossas peles de vez em quando, e que por mais que nos custe acreditar, nem sempre o amor é resposta, caso não esteja associado ao respeito e a aceitação das idiossincrasias do outro.

Ah!...Sempre teremos o outro. Não se esqueçam disso nunca!

E, para mim, ficou a sensação que a mensagem fundamental desse livro esteve unida à construção da Arca de Noé. Uma mensagem de aliança, renovação e comunhão entre opostos.
Um livro imperdível!
5 corações
Sueli Jansen é professora aposentada, casada há mais tempo que consegue lembrar e, hoje vive no interior do estado do Rio de Janeiro, com sua família, seus livros, suas árvores e seus animais.
Você a encontra no Skoob clicando AQUI.



10 comentários

  1. Sueli, Adorei a resenha!
    Embora eu ache que esse não seria um livro que me chamaria atenção se eu o visse por aí, a sua resenha atiçou a minha curiosidade. Vai pra lista de "um dia leio!", que só cresce. Obrigada pela dica.

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    1. Thalita, obrigada pela visita e pelo comentário. É sempre muito bom o retorno de outros leitores.
      Eu espero que você encontre um tempinho para ler este livro, aliás vai precisar de um tempão, pois ele é um livro enorme, porém eu adorei cada palavra lida.
      Vou ficar torcendo para que você o aprecie tanto quanto eu.
      Apareça sempre que puder, ok?
      Bjks

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  2. Olá Sueli!!
    Vim xeretar suas resenhas mais uma vez e como sempre gostei demais!!
    Nunca tinha ouvido falar dessa autora ou mesmo do livro.
    E pelo que você falou parece ser leitura de primeira!
    Um livro que nos desperta tanta coisa só pode ser bom!
    Vai pra lista de leituras também!!
    Abraço!

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    1. Oi, João, meu querido amigo! Que prazer encontrá-lo por aqui! \0/
      Pois é, João, quando eu terminei de ler "Trio de Vênus" eu estava tão emocionada que escrevi esse comentário quase que de uma vez só...
      Eu adoraria que mais livros como esse fossem comentados e pudéssemos ter uma variedade maior de gêneros literários. As editoras precisam diversificar os novos lançamentos. "Trio de Vênus" é um romance linear, solar e repleto de sentimentos maravilhosos. Quase voltei a ter esperança na humanidade... Quase! ;)
      Obrigada pela visita e pelo comentário, titio do Enzo!
      Abração

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  3. Oi, Sueli.

    Sinto falta de ler romances nesse estilo e com o meu trabalho nem me lembro quando foi a última vez que li um livro por prazer, não por obrigação.

    Fiquei intrigada com a premissa, porque você despertou a minha curiosidade. Acho que deve ser tão intenso quanto Apátrida, da Ana Paula Bergamasco, que foi um romance que me marcou muito na época em que o li. Anotando essa dica.

    Adoro as suas resenhas, porque você consegue passar todos os sentimentos que teve ao ler a obra. Traga mais livros assim, que poucos leitores têm a chance de conhecer. É sempre tão mais do mesmo, que quando vejo algo diferente me enobrece o coração.

    Beijos.

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    1. Carla, nem sempre um livro consegue me tocar como "Trio de Vênus", mas quando terminei eu estava tão emocionada, tão plena de bons sentimentos, que a "resenha" fluiu naturalmente.
      Adoro livros com histórias possíveis e tocantes. Infelizmente, além de "Trio de Vênus" e "As Quatro Graças", não temos outros livros da Patricia Gaffney publicados no Brasil. As boas romancistas estão desaparecendo das prateleiras de nossas livrarias. Uma pena enorme!
      E, já estou procurando "Apátrida", da Ana Paula Bergamasco para colocar na minha fila! Valeu pela dica! ;)
      Carla, obrigada pela visita e pelo comentário, é sempre um enorme prazer conversar com outros leitores!
      Bjks

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  4. Sueli!
    Só em ler sua resenha, já me parece que leio um livro, feita com perfeição em mostrar seus sentimentos ao lê-lo, e instigante em termos de nos deixar curiosos por vivenciar a leitura.
    Um livro que nos mostra várias facetas femininas e familiares e que nos traz ensinamentos, pelo menos para reflexão de como agirmos e pensarmos também, é uma leitura enriquecedora.
    Obrigada!
    “A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.”(Charles Chaplin)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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    1. Será que informei demais sobre o livro, Rudy?
      Se for assim, preciso que você me desculpe, mas eu fiquei muito emocionada com este romance, e só mesmo lendo para entender como o universo feminino é magistralmente retrato pela autora.
      Querida, muito obrigada pela visita e pelo comentário. É sempre um enorme prazer ter você por aqui.
      Cheiros e beijocas!

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    2. Não sueli, não falou demais, é que suas resenhas são tão boas que parecem um livro, entende? Não porque falou demais, mas porque é um livro que que fala dos seus sentimentos, bem escritos e bem expostos.
      Parabéns!
      cheirinhos
      Rudy

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    3. Quem me dera que fosse verdade, Rudy, eu não tenho nenhuma criatividade, mas alguns livros são tão inspiradores que eu transbordo de amor por eles. "Trio de Vênus" foi, para mim, um dos livros mais bonitos que li sobre o universo feminino. Espelhou com maestria as minhas inseguranças e os meus sentimentos.
      E, eu adoraria que mais livros como este fossem publicados.
      Obrigada novamente pela sua gentileza. Você é Top 10 comentarista, sempre!
      Bjks e cheiros!

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