Uma coluna para chamar de minha, com Vivi Lima

Confesso que pedir para sair é o primeiro pensamento que me vem diante das inúmeras manifestações de insensatez presenciadas nos últimos dias.  O cenário não é animador. O mundo tem se tornado um lugar de evasivas, uma cidadela de máscaras, o imperialismo do ego, da urgência vazia, da indignação sem ação, da inveja corrosiva, o sepulcro do diálogo...

O que tenho visto tem me levado, inevitavelmente, à ideia de fim do mundo.

Contudo, passado o momento de angústia, respiro fundo e busco clareza. Parece inócuo, mas o que pretendo é tão somente acrescentar um olhar compassivo que contribua para tornar melhor o estado das coisas. Proferir gritas e, com isso, considerar ter feito o bastante não é do meu feitio. Diante de tanto blablablá, penso: como as pessoas julgam saber tanto se não param nem para pensar sobre o que pensam?

Pessoas enunciam ao mundo os seus nobres pensamentos para, no minuto seguinte, demonstrarem ações que contradizem às suas nobres causas. Tem se tornado habitual reivindicarem tolerância para logo, em seguida, se portarem de forma intransigente ao virar a esquina.

É certo que incoerentes somos todos. Mas, existem caminhos éticos que servem como aio para as nossas escolhas. Ser fiel, cumprir com a palavra, ser compassivo e solidário são algumas das atitudes que nos afastam do que é desumano e impróprio.  Não adianta correr dessa tomada de posição na vida. Pois, somos julgados por isso todos os dias. Afinal, aquilo que pensamos e corrobora as nossas emoções passa a fazer parte de nossa constituição e personalidade.  Daí a importância de cuidarmos, de forma conscienciosa, de nossas conclusões e julgamentos. 

Ultimamente, a ênfase do comportamento de grande parte das pessoas é creditar como absolutos fatos e situações sem considerá-los em sua contextura.  É impressionante a tácita aceitação da noção de que partes editadas de uma informação bastam para balizar conceitos e invocar preconceitos. Não dá outra. O que resulta disso é a insensibilidade absoluta. Impulsos destrutivos emanados de um negativismo contumaz traz como consequência a perda do fluxo vital, isto é, daquilo que nos mantêm vivos. Triste, mas, muitas vezes, por livre escolha, estamos nos exilando da vida.

É questão de se perguntar: tem mais presença em mim a sensatez que me falta?

É, por isso, que continuo pedindo para sair. Não do mundo. Mas, de mim mesma. Existem labirintos perigosos dentro de mim. Sendo assim, quero compreender a realidade não a partir de mim. Mas, compreendê-la inserida em uma interação plena com a Vida.

Peço para sair do sistema cruel que me escraviza com suas noções de medo, insegurança, ódio e desesperança.  Peço para sair de toda espécie de negatividade. No atual momento da minha vida o que quero mesmo é a verdade. Estou farta da falácia dos pensamentos e sentimentos baratos que nada têm a ver com a consciência crítica. Quero entender de fato como as coisas funcionam.  Porque simplesmente não dá para observá-las e permanecer indiferente. Sou e continuarei a ser parte do processo.

Entender-se parte do processo talvez seja a bendita luz no fim do túnel a que muitos aludem. Quem sabe a luz não está escondida dentro de nós à espera de ser reacendida? Penso não se tratar apenas de uma questão de enxergar o fim dos tempos, mas a chegada de um novo tempo cuja gênese seja a restauração a partir da destruição de tudo o que dentro da gente tem feito mal ao mundo e a nós mesmos.

Sim. Eu acredito que haverá um dia em que tudo fará sentido.  Mesmo agora, diante de um estado de coisas terríveis e loucas que me deixam perplexa e triste, tenho buscado chamar à existência uma dimensão de paz para o aqui e agora. Não dá para deixar para depois ou para o mundo vindouro. Tem que ser já.

“A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer precisa destruir um mundo”. Herman Hesse

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3 comentários

  1. Vivi!
    Questionamentos bem pertinentes em uma realidade de corrupção, egoísmo e falta de moralidade.
    O por, é como diz, todos nos tornamos um pouco hipócritas diante das situações. No discurso somos um e quando uma situação nos aparece, agimos de forma totalmente diferente.
    Sabe no que acredito? Que é justamente que a cada tantos e tantos milhões de anos, tudo se extingue na terra e nascem novas pessoas na esperança que esa nova geração tenha um comportamento benigno e desejável.
    cheirinhos
    Rudy

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  2. Olá, Rudynalva! Agradeço o seu comentário. Ele muito acrescenta ao que foi colocado no texto. Que essa nova geração tenha um comportamento benigno e desejável é a minha oração de todos os dias. Bem colocado, Rudynalva!

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  3. Buscar esse dia em que tudo fará sentido é que vários fazem, aqueles que conseguem ver todo o descrito.

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