Uma Coluna para chamar de minha, com Vivi Lima

Leitura = mais vida!

Olá, caríssimos!

Estive ausente por razões de força maior, porém estou de volta para matar um pouco da saudade de estar com vocês. Óbvio que para falar de leitura. Só que pretendo tratar o tema devagarinho até que vá se clarificando por si mesmo. Afinal, não se pode falar de leitura sem fazer menção à luz. Pois ler é isso mesmo, ou seja, cada leitura feita dá à luz uma nova consciência de mundo. O fim, ou melhor, o começo dessa operação feliz é constatar que o ser leitor é uma trajetória inesgotável. É um caminho que não se acaba, uma vez que se circunscreve no percurso do ir-se fazendo leitor.

Acho linda a imagem dessa ideia em minha mente. Fico a imaginar os livros acompanhando-me de mãos dadas enquanto passo pelas diversas fases da vida. Repare que tal imagem não é estática ou linear, pois se insere em uma sistemática que muda com o tempo. Parando para pensar, se o traçado do caminho percorrido é desenhado pelas tintas de nossas emoções e pelas narrativas que se fizeram passar em nossa mente, imagine o só o quanto revelaríamos e saberíamos de nós mesmos se fizéssemos uma linha do tempo das escolhas de leituras feitas ao longo da vida? Tá certo, não precisamos ir tão longe. Por ora, se dispuséssemos na linha do tempo de nossa vida somente os livros marcantes, o quanto de recordações conseguiríamos desencavar de dentro da gente? Por enquanto, para refletir, fiquemos com Proust: “cada leitor é, quando está lendo, o leitor de si próprio”.


Mas voltando a ideia da leitura como um processo, não posso me furtar a conceder o devido crédito aos livros considerados de qualidade duvidosa pela crítica especializada. Best-sellers, romances femininos, romances de aventura serviram de base à minha formação para a vida como um todo. Na minha linha do tempo, alguns exemplares dos gêneros supracitados marcariam presença com pompa e honra. Todos eles, sem tirar nem pôr, com o tempo, construíram os degraus que me possibilitaram avançar em minha caminhada de leitura. Certa vez, li que os livros podem ser considerados uma multidão de conselheiros. Ô, se são! Quantos impasses solucionei por intermédio deles! Por isso nunca tive medo de enfrentar histórias dramáticas, as suas lágrimas e os seus dissabores. Sabedoria é aprender com os erros e fatalidades alheias do que experimentá-los no tête-à-tête, né?


Experiência é tudo quando o assunto é leitura. À medida que adquirimos experiência com o ato de ler, é que somos implacavelmente conquistados pelo prazer que decorre de tal atividade. É dessa massa que eu e você, leitores inveterados, somos moldados. E assim, paulatinamente, vamos avançando e amadurecendo como leitores. Maturidade é por vezes cruel. Quanto mais capazes, mais exigentes ficamos. Mas, pensemos positivo: coisa boa poder exigir bem! Afinal, a experiência precede a autonomia. Quanto mais lemos, mais autônomos e conscientes ficamos de nossas escolhas sobre o que e quando ler. Afinal, toda a leitura, qualquer que seja, merece ser bem escolhida. Taí uma ação que me fala tanto de vida e de liberdade. Por isso que adoro a precisão dessa citação: “A finalidade da leitura não é mais livros, e, sim, mais vida”. (B. F. Skinner)


Ficção ou não ficção, prosa ou poesia, romance ou realidade, engajada ou escapista, americana ou francesa, brasileira ou argentina, pouco se me dão as nomeações que lhe são dadas. Para mim é apenas leitura. Ou melhor, vida.


Dizer isso não implica que goste ou ache bonito tudo que até hoje tenho lido. Ainda assim, na desconfiança, gosto de por à prova os livros dos quais tenho maior resistência para, sei lá, dar-lhes a chance de exporem o seu ponto de vista. Às vezes, essa técnica dá certo. Pois veja: existem livros que não me ganham logo de início. No entanto, no decorrer da leitura, apego-me ao estilo do escritor, e não raro, apaixono-me pelos personagens. Ato contínuo, congratulo-me por ter insistido em ler aquela paginazinha a mais.


E quando não dá certo?


Bem, não vou mentir. Há livros que quanto mais insisto, mais vontade tenho de fechá-los. Não faço isso sem que surja um senso de culpa a sinalizar uma inabilidade de minha parte em não entender a mensagem que os livros rejeitados contêm. Sacrificar uma leitura exerce em mim o efeito de mutilação n’alma. Maluquice! Há quem diga não haver mal nenhum em dar um tempo na relação com o material lido até que um momento de maior receptividade acene em sinal de paz. Os mais extremistas sugerem: porque não cortar a relação de vez?

Ai, céus! Isso é um martírio para mim.


No entanto, metade de mim tem muita implicância com os livros esticados de maneira arbitrária. Passam rasgando pela garganta. Mas, sabe, em dias de céu azulzinho, a outra metade tende a considerar que esses espécimes também trazem em si alguma valia. No preto e no branco, ela acredita que tais livros podem até não funcionar, seja pelo motivo que for, mas, em potência, contam histórias que habitam em seus melhores sonhos. E só por habitar no seu imaginário e fazer com que sinta saudades das histórias que ainda não leu, sente-se dada a vê-los com gentileza. Afinal, quem há de dizer que a leitura não é conivente com os estados d’alma? E, só por isso, a versão integral de mim mesma tende a reeditar a história a sua maneira como se dona dela fosse.

E não é que é?


Beijos e até loguinho, meus queridos!



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10 comentários

  1. Nossa, que coincidência! Estava hoje mesmo falando com a Leninha sobre isso.

    Citações:
    "Experiência é tudo quando o assunto é leitura."
    "Quanto mais lemos, mais autônomos e conscientes ficamos de nossas escolhas sobre o que e quando ler."

    Eu estou fazendo umas releituras e devo confidenciar que é uma experiência nova para mim. Estou impressionada como algumas coisas mudaram: minha opinião, meus sentimentos em relação a algumas cenas. Minha percepção alterou.

    Eu tenho uma certa preocupação com resenhas antigas no meu blog, pois fica a sensação de que, sobre uma releitura da obra, minha avaliação poderia ser totalmente diferente, justamente pelo motivo de hoje em dia estar um pouco mais madura.

    bjokas

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  2. Excelente colocação, Tonks! Na
    minha visão, a percepção da leitura é pessoal e isso repercute nas resenhas.
    Claro, não estou falando das resenhas
    técnico-científicas. No plano dos blogs,
    a resenhas refletem o nosso estado de espírito. E por isso, sinto o mesmo que
    você, Tonks, em relação a elas. Quando releio o livro e posteriormente a
    resenha, sinto que algo não se conecta. Mas, é coisa de leitor mesmo. Coisa de gente como a gente. Somos
    nômades por natureza. Passamos por várias leituras e somos por elas
    transformados. É um processo simbiótico, de fato. E no ato da releitura, que
    também requer envolvimento como qualquer primeira leitura, descobrimos que a nossa percepção se alterou
    porque ela é de natureza mutável. E ainda há que se considerar que a releitura se dá
    por motivações, expectativas e interesses distintos da primeira vez. Aconteceu
    comigo recentemente quando tentei reler Barbara Cartland. Não rolou a pegada de
    antes. Fechei o livro e deixei-me ficar com as lembranças da época em que o li com uma paixão imensa, tendo a convicção de que era uma coisa de outro mundo de tão bom. Beijocas e obrigada pela comentário.

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  3. Me identifiquei com muito do que você falou. Não tenho costume de julgar os livros por nomenclatura, assim como você procuro entender o livro pela história que apresenta, mesmo que algumas vezes eu tenha abandona sem piedade uma leitura ou outra.


    Os livros me trouxe vida, experiencias que nunca vivi fora deles, mas que levo comigo a todos os lugares.


    Adorei seu texto, estava com saudades de você.


    Beijos

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  4. Lindo o que você disse, Ju. Ler é um ato de sensibilidade. Ato que expande o nosso ser e estar no mundo. Lendo, lemos a vida. E por isso, lemos para viver bem e melhor.

    Obrigada, querida, por suas palavras. Sinto muito saudades de estar entre vocês com mais frequência.

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  5. Texto maravilhoooso!!

    Parabéns pelo seu espaço já seguindo...
    Quanto ao livro não agradar muuito é isso mesmo que vc mencionou.
    Mesmo assim, aprendemos alguma coisa...
    Raríssimos são os livros que tenho dificuldade em ler, pois, aprendi tb que há leituras pelas quais, não estamos preparados.
    Contudo, mesmo adorando praticamente todos os gêneros, ainda assim acaba por cair um na mão que não agrada.
    Leio muuuito e até hoje só abandonei um.
    Abç e
    boas leituras!!

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  6. Ah, Vivi, só você pra fazer a gente fugir do mais-do-mesmo quando o assunto é literatura. Adorei suas ponderações. Acho que tudo que nos acontece faz de nós o que somos hoje, e no futuro semos ainda outros. Claro que, pra quem gosta de leitura, terá nela uma parte desse processo. Olhando pra trás, penso nos livros que me acompanharam pela vida. Eles mudaram e eu também mudei. É por isso que resisto a releituras - quero preservar na mente a memória de como foi bom ler aquele livro naquele momento.


    Bjs!

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  7. Boa, Orquídea! É isso mesmo. Há obras que não dependem apenas de dada disposição motivacional para serem lidas, mas sobretudo de um estado cognitivo e emocional preparado para recebê-las.

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  8. Belas palavras, Lilian, minha queridaça. Ainda insisto na releituras de alguns livros cujo risco de decepção é quase nulo. Outras das quais me acerquei, no entanto, foram recebidas por mim como sendo algo totalmente sem graça e desprovido da vivacidade de outrora. Seria mesma mais sábio tê-las deixadas em boa estado de preservação em minha memória. Beijocas!

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