Carta ao meu pai


Pai,

Já faz três anos que o senhor se foi… e eu nunca tinha escrito nada para o senhor. Não sei se era medo de mexer numa ferida que ainda dói, ou se era porque eu ainda tentava aceitar, de algum jeito, que o senhor realmente não está mais aqui. Mas hoje senti vontade — talvez necessidade — de falar com o senhor.

Muita coisa aconteceu nesses três anos. Coisas que o senhor não viu, momentos que eu queria ter dividido, novidades que teriam arrancado risadas suas ou provocado aquele olhar sério de desaprovação que, na verdade, sempre dizia que o senhor se importava. Mas, apesar de tudo, quero que o senhor saiba que estamos tentando. Estamos seguindo. Tá tudo bem… ou, pelo menos, seguindo do jeito possível.

O senhor sempre foi tão parte da nossa casa que eu achava que era impossível separar o senhor de mãe. Vocês dois eram como um só corpo, um só jeito de existir. Um barulho de casa cheia. Só agora, com a sua ausência tão evidente, vejo o quanto eu sinto a sua falta — e o quanto o senhor era mesmo a base de tudo, e o quanto a nossa casa hoje é cheia de silêncio. Mãe anda meio perdida, tentando se encontrar entre os espaços que ficaram grandes demais desde que o senhor partiu. Dá pra sentir o buraco que o senhor deixou, é impossível não sentir.

Nunca mais tivemos nossos sábados juntos. Nunca mais aquele ritual que parecia banal, mas que hoje me dói só de lembrar. E Natal… pai, Natal nunca mais foi o mesmo. A verdade é que o senhor era quem juntava a família, mesmo reclamando da bagunça e dizendo que não queria confusão dentro de casa. E aqui eu sorrio, porque dá até para ouvir sua bronca.

Pai, eu queria tanto que o senhor tivesse escapado… do jeito que o senhor dizia: "Eu só queria escapar" rindo de canto, como se a vida fosse uma brincadeira da qual o senhor sempre dava um jeito de sair por cima. No fundo, o senhor escapou sim… mas para longe demais da gente. E aqui, sem o senhor, vou ser sincero: está difícil.

Eu sinto tanto a sua falta. Tanta. Meu amor pelo senhor não diminuiu um centímetro. Só cresceu. Queria ter dito mais vezes que amava o senhor, queria ter falado com mais coragem, mais naturalidade… mas no fundo eu sei que o senhor sabe, sempre soube. Sei que o senhor, onde estiver, sente a falta da gente também.

E, pai… eu guardo uma coisa comigo. A esperança de que, quando chegar a minha hora, o senhor esteja lá. Que seja o senhor quem me receba. Com aquele abraço firme que eu daria tudo para sentir de novo, nem que fosse por um segundo.

Com todo meu amor e muita saudade, 


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