As Conchas Não Falam - Taylane Cruz


Conchas: invólucro calcário do corpo; falar: dizer; proteção silenciosa; silêncio aprisionador. 

Em sua nova obra, Taylane Cruz, mais uma vez, consegue o feito de reunir histórias memoráveis, dolorosas, importantes e profundas, que carregam - e convidam - o leitor para o rompimento de silêncios.

Nestes 27 contos, temos narrativas que pautam, de maneira decisória, as confissões que, ao não serem feitas/ditas, conquistam espaço no medo. 

O primeiro - Quando levaram o tio - é uma fresta para vislumbrar tudo que vem a seguir: a inocência interrompida, a violência que machuca (física e psicologicamente) e a singeleza dos pequenos atos que promovem transformações importantes.

Não por acaso, o título alude a um suposto silenciamento imperativo. Em cada conto, vai-se abrindo as possibilidades de fugir desses ciclos violentos, encorajam personagens que inspiram rompimentos que determinam os rumos, as viradas que as narrativas impõem.

O que mais impressiona é, no entanto, o fio tecido ao longo de toda a obra. Mesmo entendidos como histórias separadas, os contos se (re)visitam: as meninas e mulheres que os habitam não se cabem em um só, passeiam por outros compondo uma simbiose que beira o romance.

As linguagens exploradas também é um ponto alto do livro. Experimentam-se todas as vozes e pessoas, encaixam-se diários, bilhetes e monólogos, tudo em direção a criar uma diversidade narrativa que não apenas serve para reforçar essa diferença, mas funciona como um marco decisório nas escolhas e contextos dos personagens. 

Destaco aqui os contos "A bicicleta amarela", "Feira de bonecas" (o meu favorito!), "As conchas não falam" e "Querido Diário".

Há amor, há cuidado e há beleza - mesmo na dor e no caos. E, ao fim, descobre-se que as conchas não têm voz, mas nem por isso elas deixam de falar.

Boa leitura

Nos 27 contos de As conchas não falam, Taylane Cruz apresenta personagens que, por vezes, padecem de dores e amores, mas que também são capazes de se curar. Em uma espécie de malha coletiva, elas se unem em uma só concha, como uma espiral sem fim que liga, indireta ou diretamente, todas as emoções narradas nas páginas do livro.

Lançando mão de uma escrita livre e delicada, a autora passa por temas difíceis, como abandono e abuso, e também aborda temas inspiradores, como amor e perdão. O resultado é uma obra forte, que desperta diferentes sentimentos.



Um comentário

  1. Ronaldo!
    Gosto porque sempre traz resenhas de livros dramáticos, sofridos e dolorosos. A mistura traz sempre o sentimento de angústia e mostra o quanto a vida traz momentos tristes e que causam profundas marcas em nossas vidas.
    Gosto da agilidade dos livros de contos.
    cheirinhos
    Rudy

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