outros jeitos de usar a boca – rupi kaur


Existem livros que escolhemos para ler, assim, aleatoriamente, procurando na estante, comprando um exemplar ou mesmo ganhando de presente, e existem livros que nos escolhe para ser lido. Aconteceu comigo com “outros jeitos de usar a boca”. Vou contar como aconteceu: Ainda não tinha me animado para ler nenhum dos meus livros da pilha, daí estava assistindo TV em plena tarde de quarta-feira quando passou um vídeo, uma propaganda com algumas atrizes lendo poemas, e um deles, mais precisamente lido por Mariana Xavier, me chamou atenção. Daí ao final do comercial aparece o nome do livro, logo lembrei: caramba, eu tenho esse livro. E fui correndo buscar na estante. E para quem ficou curioso, vou citar o poema abaixo:

eu não fui embora porque
eu deixei de te amar
eu fui embora porque quanto mais
eu ficava menos 
eu me amava

E foi assim meu primeiro encontro com a poesia de Rupi Kaur. 

Seus poemas, a delicadeza de cada frase que ela escreve é de uma profundidade absurda, toca pela simplicidade e por nos deixar “de cara”. Como palavras tão simples, unidas numa pequena página podem fazer com que o leitor reflita com tanta força?! É como se aquelas palavras unidas de forma tão singela dilacerassem a alma, invadisse e penetrasse na pele. 

Outros jeitos de usar a boca, em sua bela edição, nos brinda com um texto às vezes curtos, às vezes mais longos, mas que trazem uma profundidade enorme. O livro é dividido em quatro partes: a dor, o amor, a ruptura e a cura. E a autora em sua maneira simples de transformar palavras, carregadas de sentimentos, em poemas, consegue prender o leitor em suas páginas de uma maneira única. Cada parte nos quais o livro é dividido traz um pouco da experiência de vida da autora, uma trajetória complicada, cheia de dores, mágoas e muito sofrimento, e ela consegue trazer leveza, mesmo em suas poesias mais duras, cruas e dilacerantes. 

Queria poder conseguir transformar em palavras todos os sentimentos que senti durante a leitura desse livro, mas acredito que cada leitor irá ter sua própria experiência, cada poema irá tocar de forma diferente quem o ler, e é essa a maior beleza  da leitura de um livro de poemas e poesias. 

Mas, para exemplificar, vou deixar meu poema preferido em cada uma das partes do livro. Quem sabe assim consigo fazer com que nasça em cada leitor dessa resenha o desejo de conhecer mais sobre essa leitura incrível.

Parte 1: a dor

ela era uma rosa
mas quem a pegou na mão
não tinha intenção
de guardá-la

Parte 2: o amor

você pode não ter sido meu primeiro amor
mas foi o amor que tornou
todos os outros amores
irrelevantes

Parte 3: a ruptura

você sussurra
eu te amo
o que significa é
não quero que me abandone

Parte 4: a cura

a solidão é um sinal de que você está precisando desesperadamente de si mesma


P.S.: A forma com que esse livro foi escrito, com letras minúsculas e sem vírgulas ou outra pontuação é a maneira que a autora incorporou aos seu inglês sua língua mãe, gurmukhi, a escrita punjabi que usa apenas o ponto final.

'outros jeitos de usar a boca' é um livro de poemas sobre a sobrevivência. Sobre a experiência de violência, o abuso, o amor, a perda e a feminilidade. O volume é dividido em quatro partes, e cada uma delas serve a um propósito diferente. Lida com um tipo diferente de dor. Cura uma mágoa diferente. Outros jeitos de usar a boca transporta o leitor por uma jornada pelos momentos mais amargos da vida e encontra uma maneira de tirar delicadeza deles. Publicado inicialmente de forma independente por Rupi Kaur, poeta, artista plástica e performer canadense nascida na Índia – e que também assina as ilustrações presentes neste volume –, o livro se tornou o maior fenômeno do gênero nos últimos anos nos Estados Unidos, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos.

Um comentário

  1. Você ontem falou sobre poesia comigo, sobre esse sorver gota a gota cada verso, cada palavra, cada sílaba.
    E é assim com esse livro. Não, ainda não o li, mas não vejo a hora. Mas vou admitir que vivo caçando trechos na internet para acariciar a alma!!!

    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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