Quantos dilemas cabem numa história? Em "Véspera", mais do que supomos. Ao contrário de "Tudo é Rio" - evita-se comparações, mas alguns aspectos são inevitáveis - aqui temos uma Carla Madeira que se insinua através dos seus personagens.
As coisas não são dadas, são convidadas às supostas descobertas. E está aí a potência narrativa de uma autora em plena erupção. Tal qual sua capa - e até seu título - sugere, a obra é um vulcão que deixa rastros.
Traçando a vida de dois irmãos (Caim e Abel), Carla Madeira discute parentalidade de um jeito sensível, mas não pouco brutal - e real. Os dilemas trazidos delineiam figuras literárias controversas, personalidades conflitantes que são moldadas ao longo das páginas - e se transmutam de acordo com a própria bagagem que o leitor já traz, confirmando-se ou não.
O texto da autora é impecável: ágil, certeiro, sem rodeios e de uma poética autêntica, pouco piegas, mas com passagens que são impossíveis de serem esquecidas.
A narrativa em si traz um duplo interessante, pois não se contenta nas definições de bem e mal. Tudo que percorre ambos os conceitos se expõe de maneira que a experiência de leitura fique, página a página, mais expandida.
Os afetos são lações traçados pelo parentesco de sangue? Até onde esses limites podem ir? Um nome, diz o que alguma coisa é? O que alguém é?
Em "Véspera", o dito é importante. Mas o que não se diz - o que só aparece quando impregnamos a obra com nossas próprias impressões e percepções - é ainda mais.
Boa leitura!
Com uma narrativa madura, precisa e ao mesmo tempo delicada e poética, o romance narra a história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma perda trágica, resultado do ciúme doentio do marido, e de Lucy, a prostituta mais depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um triângulo amoroso.Na orelha do livro, Martha Medeiros escreve: “Tudo é rio é uma obra-prima, e não há exagero no que afirmo. É daqueles livros que, ao ser terminado, dá vontade de começar de novo, no mesmo instante, desta vez para se demorar em cada linha, saborear cada frase, deixar-se abraçar pela poesia da prosa. Na primeira leitura, essa entrega mais lenta é quase impossível, pois a correnteza dos acontecimentos nos leva até a última página sem nos dar chance para respirar. É preciso manter-se à tona ou a gente se afoga.”A metáfora do rio se revela por meio da narrativa que flui – ora intensa, ora mais branda – de forma ininterrupta, mas também por meio do suor, da saliva, do sangue, das lágrimas, do sêmen, e Carla faz isso sem ser apelativa, sem sentimentalismo barato, com a habilidade que só os melhores escritores possuem.
Ronaldo!
ResponderExcluirFiquei imaginando que a poesia da prosa no livro, nos leva a nagevar com fluidez em Tudo é rio.
Parece bem visceral e introspectiva a escrita.
cheirinhos
Rudy
Olá! Eu sempre fico impactada quando me deparo com suas dicas, essa parece ser mais uma daquelas leituras que ficam marcadas e nos fazem refletir para além da conta, fiquei bem curiosa e sem dúvida quero ter a oportunidade de vivenciar essa experiência.
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