Analisando a música: Vida - Fábio Jr.


Eu já estava com saudade de fazer post nessa coluna, mas devo confessar que essa é uma das colunas mais complicadas de se fazer, ela requer inspiração, e é preciso estar bem para sentir a música e analisá-la com um pouco de precisão, Então hoje a coluna Analisando a música tem o prazer de apresentar, uma das músicas que mais toca na minha Alexa quando peço canções para recordar. Estou falando de “Vida”, do meu querido e idolatrado Fábio Jr., que além de ser uma linda canção, ainda é a música que dá nome ao disco/álbum, lançado em 1988.

Espero que gostem da minha analise, totalmente amadora.


Vida (Vida) - Fábio Jr.

Pelas ruas da cidade
Pessoas andam num vai e vêm
Não veem cair a tarde
Vão nos seus passos como reféns
De uma vida sem saída
Vida sem vida, mal ou bem

Apesar de datada de 1988, essa é uma das músicas mais atuais que você vai ouvir hoje. É assim que a humanidade, as pessoas vivem hoje, cada uma em seu mundo particular, em volta de seus celulares, sem olhar nem mesmo para o lado. Vivem alheios ao que se passa a seu redor, sem ver, sem sentir, sem viver.

Pelos bancos desses parques
Ninguém se toca sem perceber
Que onde o sol se esconde
O horizonte tenta dizer
Que há sempre um novo dia
A cada dia em cada ser

E assim eles vão, sem ver que o dia está lá, o sol, o vento, e não se tocam, não se cumprimentam, não se permitem viver e ver o dia. E ele passa sem que se olhe para o nascer ou para o pôr do sol. Sem saber que mesmo aquém de suas percepções, sempre há um novo dia.

Não é preciso uma verdade nova
Uma aventura pra encontrar
Nas luzes que se acendem
Um brilho eterno e dar as mãos
E dar de si além do próprio gesto
E descobrir feliz que o amor
Esconde outro universo

Não precisamos de muito, precisamos apenas nos abrir para o mundo, sairmos de nossos mundos particulares e nos permitir olhar o que passa na frente do nosso nariz. Precisamos ver mais, sentir mais, amar mais, descobrir que existe muita coisa além das telas de nossos celulares.

Pelos becos, pelos bares,
Pelos lugares que ninguém vê
Há sempre alguém querendo
Uma esperança, sobreviver
Cada rosto é um espelho
De um desejo de ser, de ter

Esse é a estrofe que mais me toca nessa música. No nosso “viver” focado em nosso próprio umbigo, não vemos as pessoas que vivem lá, nas ruas, em busca de um olhar, de um gesto de esperança, de ajuda. E eles refletem o que nós somos: zumbis, alheios a tudo e a todos ao redor.

Não é preciso uma verdade nova
Uma aventura pra encontrar
Nas luzes que se acendem
Um brilho eterno e dar as mãos
E dar de si além do próprio gesto
E descobrir feliz que o amor
Esconde outro universo

Não precisamos de grandes gestos, apenas basta olhar ao nosso redor, para nos permitir nos dar, doar, um simples gesto, um bom dia, um sorriso. Estamos tão vazios de sentimentos, tão apegados a nós mesmos que esquecemos de olhar, de sentir, de viver.

Cada rosto é um espelho
De um desejo de ser, de ter
Talvez, quem sabe por
Essa cidade passe um anjo
E por encanto, abra suas
Asas sobre os homens
E dê vontade de se dar
Aos outros sem medida,
A qualidade de poder viver
Vida, vida, vida, vida

E aqui vem a esperança de nós seres humanos imaginarmos que a ajuda vem de um lugar, de alguém, de um ser melhor do que nós. Que nos desperte, nos faça enxergar, sentir, amar ao próximo, e nos dar a qualidade que não buscamos sozinhos, que esperamos. Esperamos viver.


Gente, nem precisava de análise essa música, sua letra diz tudo e toca profundamente. Quem compôs essa música foi um visionário, se em 1988 a gente já era assim, imagina hoje?! A humanidade se perdeu, nos perdemos num mundo de informação, e nos tornamos desumanos, sem sensibilidade, sem amor ao próximo. Olha o que temos visto nos noticiários, tanta crueldade e dor, acontecem coisas que jamais imaginávamos ser possível, atos praticados por um ser humano. Ah, quando digo “nós” me coloco no lugar de quem faz o mal e o bem, porque apesar de tanta maldade no mundo, tanta dor, tanta crueldade, ainda tenho esperanças de um mundo melhor. Que ele não venha de alguém, mas de nós mesmos. O mundo precisa de seres mais humanos.




Artista: Fábio Jr.
Composição: Gomes / Rabello
Álbum: Vida
Data de lançamento: 1988

5 comentários

  1. Leninha!
    Coração batendo acelerado, olhos marejados e o grande amor no coração... Fábio Jr. é meu amor por toda vida (e Manoel sabe disso..kkk).
    Ouvi essa música ontem, aredita? Ela toca tão fundo na alma e mostra a realidade já vivida há 25 anos atrás...
    Uma lembrança meu veio: nessa época, trabalhava no interior e tinha de andar quase 1km de madrugada para chegar na rodoviária e pegar o ônibus. No trajeto, acompanhada pelo ex-marido, dava sempre bom dia para os que cruzavam nosso caminho. Um dia ele me perguntou:por que você dá bom dia para todo mundo? Você nem conhece? E respondi: Justamente por isso... estamos de madrugada e essas pessoas, como eu, estou indo trabalhar ou estão saindo do trabalho, um bom dia pelo menos mostra que os enxergo e desejo um BOM DIA verdadeiro para eles. No outro dia ele começoua dar bom dia também...
    E é isso... temos de olhar ao nosso redor e não nos fecharmos em nosso mundo.
    Importante sua análise, obrigada. cheirinhos
    Rudy

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    1. Poxa, Rudy, temos tanto em comum, Fábio Jr. é meu crush da vida, amo desde a adolescência, já fui em vários shows e tenho todos os discos, cd's e dvd's dele. Quanto a dar bom dia, eu faço isso desde que me entendo por gente, já deixei de ser assaltada por que dei bom dia para o assaltante, daí ele me olhou, e partiu para outra. Eu sei, porque vi ele agindo com outra pessoa que vinha um pouco mais atrás de mim, só agradeci a Deus e segui, ainda pedi ajuda para a moça que foi assaltada.Muitos não sabem a importância de um gesto de atenção para com o outro, um estranho, um amigo, um familiar. Um bom dia pode mudar uma vida.
      Bom seria que muitas pessoas lessem esse post e parassem para ouvir essa música, ela é um alerta.
      Beijos, Rudy!

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  2. Apesar de não ser da geração do Fábio Jr. eu adoro suas músicas! Fiquei extremamente feliz com essa coluna porque não a conhecia e pensei que era nova aqui no blog. Sou apaixonada por música e isso desperta em mim uma gama de favoritos que eu ficaria uma vida toda comentando o quanto mudaram a minha vida. O que me leva a outra memória: a aula de inglês. Propôs ao meu professor gringo comentar sobre as minhas músicas favoritas, a história delas, o sucesso que elas alcançaram, o processo de composição e o foco na letra com relação aos meus sentimentos, personalidade e história de vida. Foi uma das melhores atividades que eu trouxe para a aula e como eu aprendi... Lindas memórias eu diria. Sobre o post em si, eu costumo gostar de músicas com essa temática cujo egocentrismo (que existe dentro de nós) se mostra tão presente no meio de multidões a qual nos encontramos todos os dias. Sim, e é através dessa velocidade dinâmica em que o capitalismo desenfreado nos condiciona todo dia a ser que não percebemos urgências à frente dos nossos olhos ao cruzar uma esquina da mesma maneira se lêssemos um livro sobre àquela mesma situação em um momento de calma e concentração. Pessoas passam fome, suicídios eminentes prestes acontecer, acidentes de trânsito, preconceitos que ecoam no ar, inseguranças/medos/desconfianças, a violência disfarçada de normalidade e àquela ansiedade coletiva de chegar ao nosso destino não importe o que apareça na nossa frente. Estamos numa bolha tão densa que não se estoura com facilidade, exceto se é conosco que essa urgência precisa de atenção. Lindo demais, obrigada pela reflexão, Leninha. Cheirinho de livro novo.

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    1. Obrigada pelo seu comentário, Livia. Você só disse verdades!
      Bjs

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  3. Olá! Confesso que estava morrendo de saudade dessa coluna, mas imagino o trabalhão que ela dá, por isso, estou aqui apreciando ela nos mínimos detalhes! Primeiro já amei que a música é justamente do meu ano, mas como você mesmo disse é chocante saber que a tanto tempo o ser humano vem sendo egoísta e ainda não aprendeu com seus erros, alôooooo meu povo, bora acordar! A letra nos faz refletir de fato sobre nossas ações ou falta dela e a canção em si também é muito bonita, gostei de conhecer mais esse sucesso do cantor, até então conhecia Pai e Mulher de fases com mais afinco.

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