Se deus me chamar não vou - Mariana Salomão Carrara


Maria Carmem, você está aí? deus está te chamando! Maria. Carmem. Se deus chamar você não vai? ele está dizendo seu nome. Está com medo? Quer que ele grite?

Maria Carmem é uma menina. Uma criança que resolve escrever sua história: um ano de sua vida, explorando pensamentos, refletindo sobre situações, vivendo... E para onde nós leva essa menina?

Do início ao fim, a autora nos conduz por esse labirinto inquestionavelmente cheio de caminhos da infância. Através da sua personagem principal, somos levados ao centro de uma narrativa que é, ao mesmo tempo, simplificada e complexa, lírica e dura.

Ao longo da leitura, conhecemos Maria Carmem e tudo que a atravessa: a relação dos seus pais - que ganha uma outra parte - sua relação na escola - ela sofre bullying por ser "maior do que as meninas da sua idade" - e como ela lida com assuntos como sexo (e sexualidade), morte e família.

É como se nós, também, fôssemos convidados a reviver nossa própria vida através da garota: tudo que nos trouxe até aqui, dos medos aos anseios, dos pequenos momentos de felicidade às grandes expectativas. Me vi, novamente, na pele de quem eu fui, e isso é uma das coisas que mais gosto na experiência de ler um livro.

O mais interessante da obra, entretanto, é como os assuntos são pautados através desse olhar. A escolha de ter uma protagonista criança não parece aleatória nem mera alegoria. Há uma intencionalidade em fazer com que essa narrativa viesse a nós por essa criança, que desbrava esse território incerto, que sonho, se frustra, alimenta medos, busca entender o mundo - e a si mesma.

Uma leitura rápida, dolorida, necessária. Vale cada palavra, da primeira à última.

Boa leitura!

Quem vai te contar essa história é uma criança de 11 anos. O olhar fresco e bem humorado de quem ainda vê a vida como mistério está aqui, mas vá por mim: não subestime a solidão de Maria Carmem.

A aprendiz de escritora, enfrentando as angústias da “pior idade do universo”, irá te provar que é possível, sim, que uma menina seja mais solitária do que um velho. Ao menos uma menina que, como ela, cresce e cria suas perguntas entre os objetos de uma “loja de velhos”. Ali elas já nascem antigas, frescas e pesadas, doce feito da mais dura poesia. Maria Carmem nasceu no fim. Sendo assim, do que interessa a idade? Como ela mesma diz, “é possível que um lápis pareça estar novo, mas todo quebrado por dentro”.

É assim, toda quebrada por dentro, que ela desconstrói o mundo diante de si, o mundo adulto que cria regras e não as obedece, o mundo escolar, tudo: “na aula de matemática o problema dizia que um menino e uma menina precisavam calcular quantas laranjas levar ao parque se os convidados meninos comiam tantas e as meninas só mais tantas cada uma. E eu escrevi que não era pra levar nenhuma, que tudo é mentira, ninguém vai junto a parque nenhum nessa vida”. É também assim que ela junta e faz pergunta e faz poesia com tudo o que se ergue e desmorona, os pais, deus, o amor, o corpo, a morte, o difícil que é entender o amor dos outros.

Quando crescer, Maria Carmem vai ser escritora. Mas Maria Carmem já cresceu e já é. Esse livro é uma generosidade de sua poesia. Uma oportunidade de a gente crescer com ela.




6 comentários

  1. Acredito que seja um bom livro de ler
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    Feliz fim de semana… cumprimentos cordiais.
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    Pensamentos e Devaneios Poéticos
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  2. A mente de uma criança de 11 anos. A fase onde a infância vai ficando para trás e uma nova fase vem chegando. Com todas as suas dúvidas, anseios e medos!
    Há poesia até na resenha e fiquei emocionada com esse pensar longe!!
    Um voltar ao passado...de todas as formas.
    Dica mais que anotada!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel

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  3. Ronaldo!
    Ver tamanha solidão em ma criança de apenas 11 anos, deve ser doloroso e ao mesmo tempo, uma forma de nos identificarmos com ela, porque em algum momento, passamos pelos mesmos problemas.
    Bom ver que de alguma forma ela se experessava através de seus textos, desabafando suas angústias e que cresceu sendo a escritora préadolescente.
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Ronaldo, a delicadeza que esteve livro propõe parece atravessar o mais íntimo de nós, quando éramos criança e refletir o quanto os problemas que nos impactaram naquela época, traduzem hoje o adulto que somos. Surge então a necessidade de pegar o lápis e escrever, poetizar a vida. Sinto-me muito próxima, pelo menos desta resenha como ainda não li o livro, desta narrativa. Irei, com toda certeza, salvar para uma lida. Obrigada pela dica valiosa. Cheirinhos de livro novo.

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  5. Olá! Acredito que essa é uma daquelas leituras interessantes, ter essa perspectiva na visão de uma criança sem dúvida vai nos fazer refletir bastante sobre tudo! Não conhecia o livro, mas fiquei bem interessada sobre o seu desenrolar.

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  6. Oi,
    Não conhecia o livro, mas fiquei com muita vontade de lê-lo.
    Parece ser muito sensível e que nos faz refletir junto com a protagonista, sobre esses assuntos diversos e polêmicos que fazem parte do desenvolvimento humano.
    Que nos faz quem somos.
    Acho que vou gostar de vivenciar esses sentimentos todos.
    Vai pra lista!
    Bjs

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