A pele das coisas - Taylane Cruz

Taylane Cruz, em A Pele das Coisas, convida o leitor a olhar o mundo através de uma pupila sensibilizada: desviar da reprodução cotidiana que condiciona ao mesmo e focar nos pequenos detalhes diários que se solidificam em milagres inesperados - sejam eles em quaisquer esferas, conduzidos pelos atos mais banais.

Uma borboleta é capaz de mudar nosso mundo; uma bolinha de gude contém uma infância inteira; todas as coisas têm pele. Cada história do livro é uma peripécia diferente. Cada personagem tem gosto de vida, cada cenário tem cor de céu de verão, cada diálogo tem cheiro de humanidade. Os contos do livro gestam pedaços do que cada um de nós carrega, identificado pela essência plasmática da crença de que é possível tocar a pele das coisas.

E todas as coisas têm pele. A seu modo, cada um dos 30 contos que tecem a vitalidade do livro são significativos. Há pluralidade de visões, há uma diversidade personalística autêntica, há avidez e reviravoltas que beiram uma graça literária difícil de ser alcançada - e que a autora a alcança quase que de maneira permanente em todo o livro.

Quem me conhece sabe que Taylane é uma das minhas autoras/cronistas favoritas. Suas palavras me parecem escolhidas certeiramente para afiar no leitor as coisas que nele habitavam no fundindo da alma. Através de sua obra, ela desenrola sentimentos universais, quer tenhamos passam por situação semelhante ou não. O que existe de mais comumente compartilhado por todos é essa pulsação que nos envolve em nossa complexa humanidade, e Taylane não apenas descobre esse ponto central onde todas as histórias se concretizam, como as humaniza e pluraliza.

Em livros de contos, é consentido que há menos melhores que outros. E, de certa forma, tenho os meus favoritos em A Pele das Coisas (amo de paixão a dolorida história de Aquário Artificial e Coração disparado é, de longe, um dos melhores contos da minha vida), mas arrisco dizer que não desgosto de nenhum. Cada pequeno grande conto se torna fundamental no objetivo de expor a camada de pele que parece invisível a olho nu; cada pele revirada, cada pele revisitada por uma poética linguística que nos leva do riso às lágrimas em questões de parágrafos, frases até.

Sempre que recomendo esse livro - e o tenha recomendado muito - digo que ninguém sai intocado da obra. Nesta opinião, digo mais: ao embaralhar nossas próprias vivências com a vida de cada pele, o livro também não sai intocado. O ganho é mútuo, como se nós e o livro fossemos um só. Somos.
Boa leitura!



3 comentários

  1. Ronaldo!
    Só por sua resenha já dá para percebermos o quanto o livro o tocou e ainda mais, o quanto o deixou inspirado.
    Particularmente adoro livros de contos e esse me parece que traz uma sensibilidade inerente em cada história, fascinante de ler lida.
    cheirinhos
    Rudy

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  2. Aquela resenha que tem cheirinho de poesia! Adoro quando acontece isso, o sentir lendo. Como se pudéssemos sentir o que a pessoa está escrevendo.
    A pele é também o revestir dos sentimentos, a alma exposta.
    Como não conhecia o livro, já preciso muito desta lindeza em mãos e alma!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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  3. Olá! Aquele livro tão necessário, eu particularmente amo esse formato de contos e fiquei bem empolgada, por no meio de tantos, ser quase impossível apontar os melhores, quero muito conhecer melhor a escrita da autora e me apaixonar assim como você.

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