E se, de uma hora para outra, o mundo entrasse em colapso? Se esse colapso fosse uma epidemia do sono? Se essa epidemia se instalasse em uma pequena cidade e a colocasse no centro de um temor subentendido? Quarentena? Isolamento? Transmissão desconhecida? Parece realidade, mas é ficção – são as duas coisas caminhando em paralelo em uma obra tão temporalmente cabível. Karen Thompson acertou em cheio.
Os sonhadores é um romance se passa numa cidadezinha dos EUA e acompanha a saga de inúmeros personagens tendo que lidar com a chamada “doença do sono”. Ela começou assim: um dia, alguém dormiu e não acordou mais. A única certeza da vida que ainda pulsa dentro do corpo são os olhos, movendo-se enquanto sonham – o que sonham, com o que, ninguém sabe.
O mote da narrativa se desdobra a partir desse acontecimento, com uma voz narrativa onipresente e onisciente, com toques de um desconhecimento aterrador. As linhas temporais acompanham inúmeros protagonistas, sem, no entanto, coloca-los como pontos centrais da obra. Parece e é, a todo instante, que a própria temeridade da doença, a presença silenciosa e amedrontadora desta, é que desenrola o protagonismo.
Sem qualquer tipo de explicação, a autora conduz o leitor dias a fio por essa cidadezinha. Explora o medo dos personagens e a ignorância a respeito da causa e da cura da doença, ao tempo em que, no leitor, vai moldando também esses medos – e se considerarmos o caos que estamos vivendo exatamente agora...
Acho que o mais interessante da obra é essa moldagem do medo e do desconhecido – a falta de respostas. É um recurso que me lembrou, num momento imediato, Caixa de Pássaros. Chega certo ponto da narrativa que tudo que o leitor precisa são respostas, mas a falta delas é o que faz com que a história avance e se desenrole.
De uma garota excluída até duas crianças criadas por um pai obsessivo, temos esses fragmentos de tempo e personagens que dão a obra um tom abrangente. Não vemos Os sonhadores e o caos da cidade por nenhum olhar específico, mas como se acompanhássemos nós mesmos, vendo, ao mesmo tempo, a abrangência dos impactos dentro daquela comunidade, e a singularidade de cada vida que a “doença” toca.
Recomendadíssimo – porém, com inúmeros gatilhos dessa nossa própria situação. Pode não ser uma leitura confortável para tempos tão difíceis, mas pode ser também a oportunidade de enxergar que existe gente lá fora (e aqui dentro) apesar de tudo.
Boa leitura!
Uma pacata cidade nos Estados Unidos é transformada por uma misteriosa doença. Seus habitantes caem aos poucos em um sono profundo, perpétuo, e os que continuam despertos precisam aprender a seguir com a vida e a sobreviver - sem saber se irão acordar no dia seguinte. É um romance impactante, da autora do best-seller A idade dos milagres.
O tipo de enredo que gosto muito! Ainda não tinha visto ou lido nada a respeito do livro,mas juro que já busquei há um tempo sobre a doença do sono. Tá, não tem nada a ver com o enredo do livro e ao mesmo tempo, tem.. por isso, já adorei o que li acima.
ResponderExcluirEu só queria poder dormir uns 3 dias..rs mas sem sonhos, só descansar!
O livro já vai pra lista dos mais desejados com certeza.
Beijo
Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor
Ronaldo!
ResponderExcluirParece um daqueles thrillers que envolve o leitor e brinca com nossos medos e nossas angústias e não ter as respostas, nem a cura e bem parece com o momento que estamos passando, concorda? E isso deve ser ainda mais aterrador para o leitor.
cheirinhos
Rudy
Olá! E assustador como cada vez mais as histórias vem chegando mais próximo da realidade. Essa é a segunda vez que me deparo com esse livro e pelo visto não vou poder mais fugir dele, o que mais despertou meu interesse foi justamente essa semelhança com o que vem acontecendo atualmente nas nossas vidas, quem sabe não acabo tirando algum aprendizado.
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