A Casa Holandesa - Ann Patchett

A Casa Holandesa é um romance poderoso sobre perdas, passados e rumos. Sobre dor, sobre ressentimento, sobre uma vida baseada em determinações ditadas pela dor do abandono e da injustiça.

A narrativa, em um fluxo contínuo e regresso, se desloca em diferentes direções. Contada por Danny, se desdobra nos fatos que, no passado, ditaram o rumo da sua vida atual, casado, sempre voltando ao mesmo local dos acontecimentos com sua irmã: a residência imponente, que, para sempre, marcaria os dois.

A Casa Holandesa, por si só um personagem, é o cenário principal da trama. Danny e Maeve são irmãos e precisam lidar com a perda da mãe - que foi embora - e a truculência silenciosa do pai - que, em momentos que nem fazem a memória lembrar, fora afetivo.

No meio dessa infância/adolescência surge Andrea, a figura que vai transformar para sempre a vida dos dois - e, de alguma forma, atravessará a existência de todos os personagens do livro. Casando com o pai, Andrea se torna a "dona" da casa, "dona" do dinheiro, "dona" de qualquer coisa na casa - numa obsessão quase doentia.

É muito interessante a maneira sutil como a história de perdas e cicatrizes vai sendo revelada em temporalidades que deslizam pelas páginas. Em questão de parágrafos, a narrativa faz grandes e interessantes deslocamentos, que condensam anos em algumas frases, ao tempo em que explora complexidades humanas que não pareceriam caber na precisão da escrita, mas cabem.

É, definitivamente, uma narrativa com inúmeras camadas. Particularmente, me foi uma história realmente tocante. Todo o drama de Danny, sua raiva, o ressentimento de Maeve, a revolta, o ciclo vicioso da dor e da perda. Tudo parecendo voltar sempre ao mesmo lugar, a partida e a chegada.

A autora, Ann Patchett, chegou a revelar sua "dificuldade em criar vilões" e acho que, em resumo, A Casa Holandesa é muito sobre isso. Sobre uma vilanização que às vezes nos vem como instinto e sobre as potencialidades que temos e sempre teremos - de querer do outro aquilo que nos falta, ou de querer de nós mesmos aquilo que os outros nos exigem.

Como ficamos no meio de tudo isso? Encontrando em histórias assim um meio de entender o mundo e as histórias que talvez, de quaisquer outras maneiras, nunca nos atravessassem.

Boa leitura!
Após a Segunda Guerra Mundial, graças a uma conjugação de sorte e senso de oportunidades, Cyril Conroy entra no ramo imobiliário, criando um negócio que logo se torna um império e leva sua família da pobreza para uma vida de opulência. Uma de suas primeiras aquisições é a Casa Holandesa, uma extravagante propriedade no subúrbio da Filadélfia. Mas o que ele imaginou que seria uma surpresa incrível para a esposa acaba por desencadear o esfacelamento da família.
Quem nos conta essa história é o filho de Cyril, Danny, quando ele e a irmã mais velha - a autoconfiante Maeve - já não moram mais na casa em que cresceram, onde cada centímetro um dia ocupado por eles, pela mãe e o pai agora pertence a madrasta e suas duas filhas. Danny e Maeve aprenderam muito cedo que eram a única certeza na vida um do outro. Eles e a Casa Holandesa.
A construção - erguida na década de 1920 pelos Van Hoebeeks, um casal que fez fortuna comercializando tabaco e cujos retratos em tamanho real ainda estão acima da lareira, na sala de estar - exerce certa aura mágica sobre todos os habitantes da trama, não apenas Maeve e Danny. Foi um troféu para o pai deles, um fardo para mãe, uma ambição concretizada para madrasta. Apesar de suas conquistas ao longo da vida, Danny e Maeve só se sentem verdadeiramente confortáveis quando estão juntos e repetidas vezes voltam aquele endereço, observadores externos da própria vida.

5 comentários

  1. Primeira resenha que leio desse trabalho da Intrínseca e amo a diagramação da Editora. Trazer um drama tão intenso assim, com essas camadas sendo retiradas pouco a pouco e sem mascarar nenhum dos sentimentos.
    Achei isso maravilhoso e senti uma pontinha grande de tristeza. Pois pautar uma vida em dor, dificuldades e sei lá, estar nesse ciclo vicioso é algo tão real hoje em dia.
    Com certeza, vai para a lista dos mais desejados!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  2. Ronaldo!
    Nós temos algo inerente em nossa personalidade que nos abala profundamente quando 'achamos' que perdemos algo para uma pessoas que talvez não a merecesse... e em algumas pessoas, isso se torna mais evidente e marcante, trazendo uma melancolia profunda, e acredito que o livro traz esse sentimento tão arraigado de perda.
    Gostaria de conhecer essa escrita carregada de camadas que vamos desvendendo aos poucos.
    cheirinhos
    Rudy

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  3. Oi Ronaldo!
    Que história forte!
    Eu ainda não assinei nenhum clube de assinatura, tenho medo de não gostar. Mas, essa história me pareceu ser muito interessante.
    Bjus
    Para todas as estações

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  4. ola Ronaldo .ainda náo tinha visto resenha desse livro mas me interessei pois gosto muito desse tipo de enredo envolvendo conflitos familiares

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  5. Olá! Ai ai como não amar essa caixinha da intrinseca que nos presentei sempre com histórias maravilhosas e para lá de comoventes, estou bem curiosa para conferir essa história e me emocionar a cada virada de página.

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