Você tem a vida inteira – Lucas Rocha

Falar de Você tem a vida inteira não é uma tarefa fácil. Primeiro porque os personagens são tão reais que parece que você tá conversando com eles, página a página. Segundo porque ele segue três linhas narrativas, três pontos de vista, três passagens de tempo - às vezes ao mesmo tempo. Mas, falar de Você tem a vida inteira também é bem fácil: é um romance forte, com uma estória que significa pequenos momentos da vida, os faz ganhar novos contornos e perspectivas.

Alternando as vidas, dilemas, sentimentos e emoções de Ian, Victor e Henrique, o livro de Lucas Rocha prende o leitor logo de cara pela fluidez narrativa e pela maneira como os fatos vão se apresentando, sem grandes enrolações e de maneira bastante precisa. Em cada capítulo o leitor é convidado a estabelecer esse diálogo com cada um dos personagens, entender o que se passa com eles e o que os levam a determinadas ações.

Claro que todos eles têm suas vidas entrelaçadas e há um ponto central nisso: o HIV. Ian e Victor estão na fila para receber o diagnóstico e é aí que se conhecem. Um positivo outro não. Já Henrique entra na estória porque é um caso de Victor que tinha tudo pra dar muito errado - e muito certo também. E é no meio de todo esse turbilhão que os três acabam vivendo esses encontros e desencontros.

O que mais gostei na estória foi a própria maneira como cada capítulo foi construído. E de como, também, esses personagens se apresentam para quem os lê: verdadeiros em seus medos, preconceitos e emoções.

É impossível não se afeiçoar mais a um do que a outro, mas o mais notável é perceber que todos eles são parte importante da estória, da mensagem que ela nos passa. Ian e seus medos e inseguranças nos mostra o quão difícil é lidar com a iminência de um vírus até então desconhecido para ele. Acompanhar sua rotina depois de tudo é como querer abraçá-lo e confortá-lo.

É também bonito acompanhar a trajetória de Victor, sua luta por destruir um preconceito que lhe foi cultivado, enfrentar esse mesmo preconceito e receios em nome da promessa de um sentimento. E Henrique... ah, Henrique, como é bom saber que você existe e como é bom ler a vida através de você e de Eric. Porque sim, Eric, mesmo sendo um coadjuvante é um personagem que não apenas dá corpo e ritmo a narrativa, mas confere momentos muito bonitos - e engraçados - ao livro.

Enfim, cada um deles tem uma contribuição importante a dar ao leitor. E isso foi feito de maneira responsável, delicada e muito verossímil.

Talvez seja esse o ponto que mais se destaca em toda obra. É notável a responsabilidade com a qual o autor tratou o tema. Por isso toca e por isso importa a existência desses livros.

Leiam e façam ler Lucas Rocha!

As vidas de Ian, Victor e Henrique se encontram de uma forma inesperada.
Ian conhece Victor no dia em que recebe o resultado de seu teste rápido de HIV. Os dois são universitários. Victor está envolvido com Henrique. Ian está solteiro. Os três são gays.
Dois deles têm a vida atingida pela notícia de um diagnóstico positivo para o HIV. Um não tem o vírus. Um está indetectável. Dois estão apaixonados.
Henrique é mais velho e, depois de Victor, pensou que poderia acreditar de novo em alguém.
Victor têm medo do que o amor pode trazer para a sua vida.
Ian sequer sabe se será capaz de amar.
Os três são, ao mesmo tempo, heróis e vilões de uma história que não é sobre culpa, mas sim sobre amor, amigos e sobre como podemos formar nossas próprias famílias.

5 comentários

  1. Ah meu Deus!Escrever o que depois de ler uma resenha assim? Puxa, deu para sentir a angústia e a ternura que estes três irão enfrentar. E oh, não falo somente sobre o tema do HIV ainda considerado um tabu daqueles, mas também pela gama de sentimentos que estes meninos irão enfrentar, tanto pelo amor, pelo sentimento, aceitação e também por se fazer GENTE, como todos somos!
    Deve ter sido uma experiência única ler algo assim e com certeza, já vai para a lista dos desejados!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  2. Acabei de ler a resenha e fui no Skoob conferir a classificação do livro e fiquei surpresa ao ver que é quase unânime a aceitação, praticamente todos que leram super classificaram com 4 ou 5 estrelas. Eu particularmente achei a trama incrível, me parece ser um livro que foge do comum, que retrata uma realidade que pouco vemos em outros livros. Adoro livros com uma certa carga dramática, não importando o gênero. Gostei de tudo, da capa, da sinopse, da premissa e principalmente da resenha. Gostaria de poder ler.

    Beijo, Van.

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  3. Ronaldo!
    Livros que todos os personagens são importantes e tem seu papel na história bem definido, trazendo luz em algum momento para história, com suas próprias histórias sendo narradas e ainda abordando tema tão delicado e importante quanto o HIV, saõ daqueles livros imperdíveis de serem lidos, já quero.
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Olá! Nossa a história realmente é daquelas que nos presenteia com personagens reias, é aquele tipo de história que você já ouviu falar de um amigo, conhecido, ou porque não de nós mesmos. Gostei bastante do tema que ela traz, que, aliás, eu vejo bem pouco por aí, além disso, traz também uma gama de emoção que deixa qualquer leitor empolgado para começar o quanto antes a leitura.

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  5. Se com uma resenha eu chorei imagina com livro? Mas Brincadeiras à parte eu já tinha visto esse livro só pela capa e achava que era um romance adolescente bobo que não era recíproco mas agora queria sinopse fiquei completamente apaixonada pois até então poucos livros eu li que os protagonistas tivessem HIV ou alguma outra infecção sexualmente transmissível e o que eu mais gostei no livro é que ele naturaliza relacionamentos onde uma das partes é portadora de DST e acho que isso deve ser algo que tem que ser muito mais naturalizado e discutido

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