A distância até a cerejeira - Paola Peretti

A distância até a cerejeira é um clássico moderno para crianças. Acima de tudo, é uma história muito bonita e sensível sobre as coisas importantes do mundo, tudo que é possível enxergar com o coração, como quando a gente lê O Pequeno Príncipe pela primeira vez. Aliás, o livro foi até comparado do clássico francês - e embora eu não acredite que chegue a tanto, a vida da garotinha Mafalda é um encanto, com vários ensinamentos sobre as coisas essenciais.

E esta é a história de Mafalda, que tem nove anos e um problema de visão progressivo. Quanto mais o tempo passa, menos ela consegue enxergar o mundo a sua volta. Todo escrito em uma contagem regressiva (o tempo que passa até ela parar de enxergar completamente), vamos sendo puxados por essa menina para o seu mundo, tudo encaixadinho perfeitamente para que nada fuja do seu controle. Só que seu mundo é um grande borrão e com o passar dos dias, sem uma solução concreta, ela vê sua existência ir se apagando cada vez mais, e isso vai angustiando a menina ao tempo em que o leitor vai se angustiando.

Então as coisas acabam girando em torno desse mote: como que ela vai lidar com começar a viver "no escuro"? E depois, o que, de fato, vai acontecer? Será que dá pra viver desse jeito?

A distância até a cerejeira é, sobretudo, um livro sobre incertezas. Sobre medos, sobre descobrir o mundo através de outras sensibilidades. Através de uma narrativa singela, com a pureza do olhar infantil, conhecemos a Mafalda além dos olhos, a garotinha que quer ter amigos, que que aprender a não ter medo do escuro (tanto do literal quando do metafórico) e que acredita profundamente na bondade do coração humano. Os vínculos que ela começa a estabelecer com uma zeladora da escola, o simples andar de bicicleta com um colega, a sensação de escorregar a mão por um corrimão qualquer: tudo, para Mafalda, acaba tendo um gostinho e um significado mais profundo.

O título remete exatamente a esse distanciamento que ela vai criando através do laço afetivo que ela estabelece com uma cerejeira que fica no pátio de sua escola. Ela mede a progressão do seu problema de acordo com a sua capacidade de enxergar essa cerejeira. E é tão bonita essa relação! Nos ensina tanto sobre fugas imediatas, sobre o respeito e sobre o imediato.

Diria que é um livro fundamental para crianças. Mas para adultos também, afinal, todo mundo precisa aprender a ser gentil quando o mundo parecer demasiado devastador.

Boa leitura!
Todas as crianças têm medo de escuro.
O escuro é um quarto sem portas nem janelas, com monstros que nos prendem e nos devoram em silêncio.
Eu tenho medo só do meu escuro, aquele que tenho dentro dos olhos.
Para Mafalda, de nove anos, o escuro é a sua única certeza e o seu destino: em algum momento nos próximos seis meses ela perderá a visão. Diante de um futuro assustador e desconhecido, Mafalda – com a ajuda de sua família e seus amigos – precisará descobrir o que realmente importa conforme sua visão começa a falhar.

4 comentários

  1. que resenha apaixonante !!Hoje em dia nos estamos vendo um mundo cada vez mais perverso ler um romamces desdes deve ser como encontrar um oasis no deserto
    nada mais puro e verdadeiro do aue enxergar as cousas atraves do olhar de uma criança
    precisamos disso!!!

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  2. Ah meu Deus! Nunca em sã consciência imaginaria que o livro traria um enredo assim. Sei lá, identificação?? Nada a ver, até pela personagem ter apenas 9 anos. Eu tenho um doença desde os 15 anos na visão. Por três vezes na minha vida, ouvi que iria ficar cega e a última veio há cerca de 02 meses.Mesmo depois de dois transplantes de córneas, minha visão anda caindo demais e não há mais o que fazer, mesmo estando no aguardo de mais dois exames.
    Eu meço essa distância nos livros...e cada vez fica pior.
    Por isso, o que li acima, me deixou emocionada. Talvez Mafalda sinta o que sinto todos os dias, principalmente quando coloco um filme na tv ou pego um livro. Será que amanhã ainda estarei vendo?
    Puxa...
    Beijo

    Rubro Rosa/O Vazio na Flor

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  3. Ronaldo!
    Deve ser um livro sensível e que traz grande aprendizado, não apenas para as crianças, mas também para os adultos, porque precisamos saber lidar com essa situação de deficiência/especial.
    Fico imaginando o que se passa na cabecinha da Mafalda conforme ela vai perdendo a isão...
    cheirinhos
    Rudy

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  4. Olá! Além de linda a história também traz grandes ensinamentos não só para os pequenos, mas para todo mundo, fiquei tocada só lendo a resenha, imagina então lendo pela perspectiva da nossa protagonista, sentir seus medos, deve ser bem intenso. Afinal não dá para mensurar o quanto deve ser difícil e angustiante para uma criança de apenas 9 anos passar por tudo isso. Então é melhor estar com a caixinha de lenços já preparada. Mafalda já ganhou minha admiração e um lugar especial no meu coração.

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