O conto é uma história futurista? É um ensaio sobre possibilidades aterradoras guiadas pelo controle social? A história é sobre nós ou sobre eles? Margaret Atwood é magistral: em uma prosa impecável, elaborou uma obra sobre as bases de um estado controlador, cruel e segregador, tendo uma protagonista mulher como o centro da narrativa e nos dando acesso a ela através de um relato visceral. Acerta em todos os pontos.
Tornado mundialmente conhecido principalmente por causa da série que leva o mesmo nome, thehandmaid’s tale, O conto da Aia se debruça no exercício imaginativo de uma sociedade teocrática, guiada pelos valores religiosos do Estado, que subvertem todo e qualquer direito feminino.
A narrativa é guiada por Offred, uma mulher que, ao ser instaurado a ditadura da República de Gilead, perde tudo – sua família, seu marido, sua mãe, seus amigos, sua vida – e se torna uma Aia, que são mulheres designadas para a procriação.
Nesse novo Estado, que se firma em bases políticas e religiosas fortes, cada mulher (e consequentemente cada homem) tem um papel específico, e desempenhá-los é fundamental para se manter vivo.
Mas Offred, apesar de tudo, não desiste. A esperança de qualquer pista que seja da sua filha, do seu marido e de sua amiga Moira é o que a mantém firme, mesmo que às vezes seja difícil continuar seguindo em frente.
Fiz um resumo bastante simples do que é a história de maneira geral, porque é impossível adentrá-la sem de fato discutir pormenores que nos levariam a uma série de spoilers. Mas basta pegar essa breve descrição e imaginá-la impregnada de uma autenticidade autoral, de uma prosa rica e complexa, com caminhos interpretativos diversos.
É isto que Margaret Atwood faz. Ela, a todo o momento, impulsiona o leitor no exercício da reflexão. Pega em pontos que vão da mais cruel frieza até o mais elaborado sentimentalismo. Através de Offred e da busca por explicá-la (a história é contada por ela, como se estivéssemos tendo acesso a ela por inteiro - até onde nos é permitido) a autora se propõe a nos levar pelos caminhos mais obscuros do que é a supressão de direitos.
De fato, a história parece futurística. Mas ela é tão real em detalhes cotidianos, do que somos agora, que é impossível o leitor não estar atento. E sentir medo. E sentir repulsa. E sentir como se a importância dessa obra fosse tão evidente que o faz querer que todo mundo leia. E também fique atento.
Eu poderia passar horas falando sobre as camadas da história, sobre seus personagens, sobre suas descrições precisas – de lugares, pensamentos, observações como um todo – mas acho também que a experiência do leitor é mais válida. A mim cabe indicá-la. E sigo indicando porque entendo que, quando mais esse livro atingir as pessoas, mais nos tornaremos melhores. E mais observadores. E, sobretudo, mais humanos para com o outro, seja quem for.
Boa leitura!
Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, o a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano.
Eu fico tentando imaginar o quanto é difícil fazer uma resenha de alguma obra da Margaret. Tá, eu só li um livro da autora até hoje e não foi este..rs
ResponderExcluirMas em contrapartida, a série é uma das minhas favoritas no mundo todo e estou quase terminando a terceira temporada. Sei que deve haver algumas diferenças entre livro e seriado, mas pelo que andei pesquisando, a série é bem fiel.
Um universo utópico, trágico, triste, feliz ao mesmo tempo, pois ainda há esperança. E mesmo em meio a tanta dor, tantas perdas, tanta indignação, a gente se pega o tempo todo torcendo pela protagonista, para que ela não só salve a si própria,mas todas as mulheres e isso se encaixa a todas nós!
Lerei com toda certeza do mundo!!!
Beijo
Eu estou louca para ler o livro. Antes, eu achava que era só uma série, mas depois, quando fiquei sabendo do livro, eu fiquei muito curiosa. Ainda não vi a série tb, quero ler o livro primeiro.
ResponderExcluirOlá! ♡ Fico me perguntando como eu ainda não li nada da Margaret Atwood, sendo que ela escreve o tipo de livro que eu gosto. Espero mudar isso em breve, não vejo a hora de poder conhecer as obras dela e as críticas que ela faz nas mesmas.
ResponderExcluirO que mais chama minha atenção sobre este livro, é o fato de que apesar de O Conto da Aia parecer se tratar de uma história futurística, podemos encontrar aspectos do livro na realidade em que estamos vivendo no momento.
Adoro que Margaret cria situações no livro que nos fazem refletir, precisamos de livros assim, que despertem nosso senso crítico, nos faça pensar sobre assuntos extremamente relevantes se levarmos em consideração o mundo em que estamos vivendo no momento.
Tenho muita curiosidade em conhecer a escrita tão famosa da autora, uma escrita complexa que marca quem têm o prazer de conhecê-la, que prende e nos faz sentir medo diante de tantas doses de detalhes cotidianos, uma escrita que parece muitas vezes cruel, mas que cumpre muito bem o papel de nos alertar, de certa forma, acerca de para onde nossa sociedade parece estar caminhando.
Obrigada pela indicação, com certeza vou querer conferir tanto o livro quanto a série.
Beijos! ♡