Que tal falarmos hoje sobre a beleza? Sim, podemos falar sobre seus vários aspectos e prometo não ser enfadonho. Nossa proposta para hoje é Troia, a queda de uma cidade, a nova série do Netflix.
A provocação não foi boba, uma das maiores sagas da humanidade e a maior do ocidente narrada desde a antiguidade que chegou até nossos dias inspirando a forma como contamos histórias e vemos nossos heróis e vilões, tem origem na mãe de todas as histórias – A Ilíada e a Odisseia.
A Ilíada, palavra originária de Ílion (Troia), na qual provém o nome da famosa Guerra é sem dúvida uma das maiores inspirações em termos de narrativa que a história humana já produziu. Lá encontramos os diversos dramas humanos contados de forma periférica à história central dos jovens apaixonados Páris e Helena. Não há personagens sem importância, até mesmo um escravo tem sua relevância na trama de semideuses, reis e princesas, e de tão grandiosa, os deuses não deixam de participar. A propósito, tudo começa com os deuses e várias profecias que se convergem na Épica narrativa de Homero, provável trovador cego que contou essa história, por volta de 1.200 a.c.
E conforme a provocação, o tema central é a beleza. Os deuses haviam organizado uma confraternização e quase todos estavam reunidos no Olimpo, todavia, apenas uma não havia sido convidada – Éris, a deusa da discórdia, ressentida, ela toma um dos pomos de ouro da árvore do jardim das Hespérides, e com uma inscrição, deveras peculiar, ela lança no meio das deusas Hera, Atenas e Afrodite, tidas como as mais vaidosas dentre todas as deusas. Na maçã reluzia na casca dourada: “Para a mais bela.”
Nenhum dos deuses presentes quis opinar, nem mesmo o soberano Zeus, e a tarefa recaiu sobre os mortais, mais precisamente, um jovem pastor marcado por uma profecia macabra, Páris, que optou por Afrodite depois da promessa de ter a mais bela mulher do mundo como esposa.
A série é muito fiel em muitos aspectos à história original e julgo ser uma excelente adaptação, que não teve medo de ousar nas questões amorosas entre homens e mulheres ou entre homens/homens. Sim, estamos falando de uma época em que o amor não tinha que ser definido entre apenas o gênero binário, homem e mulher. Mas isso não vem ao caso.
A narrativa não é cansativa e tenta dar importância aos detalhes que a história original trás como relevante para o desfecho. As decisões tomadas pelos deuses foram interessantes, porque reflete a inverossimilhança com a história original, pois os deuses também tomam partido. É bacana ver Atenas e Hera conspirando contra os troianos, enquanto Afrodite faz o possível para protegê-los. Não há aparição do deus Apolo, o que achei lamentável, pois sua participação em favor dos troianos é de suma importância. Entretanto, um dos aspectos mais macabros dessa história é contada de forma bem direta. Trata-se do sacrifício de Ifigênia, filha do rei Agamennon, depois do pedido de sucesso na guerra contra os troianos para a deusa Ártemis, deusa da justiça. O desenrolar dessa história é muito bom, pois Agamennon sofrerá as consequências de seus atos. Onde ela é melhor narrada, é no clássico de Eurípedes, Efigênia.
O nome da Guerra de Troia é sem dúvida Aquiles, e aqui não vemos o Brad Pitt, o que achei muitoooooo legal, pois o foco não são nos atores e sim na narrativa. Fantástico!
A beleza da narrativa é graças sua pluralidade de ideias e personagens que coloca qualquer romancista moderno no chinelo, não há novela melhor que essas velhas linhas. Sabemos que a história da Guerra de Troia confunde-se com a realidade, duma guerra expansionista grega que vem desde as tradições orais, e até hoje nos enche de inspiração e deleite.
Ouso a arriscar numa continuidade, e não precisa ser nenhum gênio para saber qual seria o título, A Odisseia, a história do protegido da deusa Atenas e o deus Hermes, cuja linhagem retoma ao avô de Odisseu; que enganou Poseidon, senhor dos mares com o sacrifício do cavalo.
Preste atenção nos detalhes, talvez eles sejam explorados posteriormente. Gostaria de discorrer mais sobre esse tema, mas finalizo aqui indicando com todas minhas forças para que vocês assistam a série e depois disso, leiam, se possível a história que há várias versões hoje em linguagem bem acessível. Não há dúvida que vocês se encantarão com a beleza da narrativa, aliás, tudo lá é belo!
Seeyou in space cowboy.
Koudan - Professor de História, Orientador Educacional e Contista, foi membro do Núcleo de Literatura da Câmara dos Deputados e pesquisador em História oral e Mitologia greco-romana. Amante de ficção científica e animação, e leitor ávido de quadrinhos e livros.
Sou fascinada por séries, ainda mais quando elas vem com esse ar de história de verdade. Me lembrei muito de Spartacus ao ler sua resenha, talvez pelo amor livre pregado naquela época.Mas vejo que nessa aqui há beleza, não só pelos deuses em si, mas por cenário e riqueza de acontecimentos.
ResponderExcluirCom certeza, vai para minha quilométrica fila de séries a ver.rs
Beijo
Hehe boa maratona!
ResponderExcluirKoudan!
ResponderExcluirNão tinha visto a série ainda na Netflix e vou procurar para assistir, principalmente porque falou que é muito mais fiel à História do que a série anterior e já me interessei por isso, sem contar com a imagrm gráfica do filme que parece ser espetacular, afinal, fala de beleza.
Valeu!
Maravilhosa semana!
“O meu objetivo é colocar no papel aquilo que vejo e aquilo que sinto da mais simples e melhor maneira.. “(Ernest Hemingway)
cheirinhos
Rudy