Visceral, forte e estruturado em uma narrativa crua e brutal, Jantar Secreto revela uma literatura brasileira viva, que pulsa nas mãos do leitor parágrafo a parágrafo, página a página. Raphael Montes cria uma trama autenticamente nacional, misturando horror com toques de críticas sociais sutis que tornam o livro peculiar, apurado e absolutamente inesquecível.
Acho que a trama principal que move as engrenagens do livro pode não ser das mais originais - o canibalismo já foi tratado na literatura e no cinema inúmeras vezes - mas é justamente a capacidade do autor de tomar o assunto como seu que torna tudo interessante e excepcional.
Jantar Secreto se destaca pelo que é: sem rodeios, com voz autoral potente e com um inconfundível senso de urbanidade brasileira. Por isso tão bom e identificável. Por isso certeiro na proposta e efetivo no resultado. Aqui, Raphael reafirma o que todos vêm dizendo sobre sua obra nos últimos anos - e que só pude degustar uma vez antes desta, com O Vilarejo (outro livro excelente!).
A trama de Jantar Secreto é das mais absurdas e chocantes. Um grupo de quatro amigos que se veem em uma situação desesperada para conseguir o dinheiro do aluguel. Eles são jovens e estão começando uma vida no Rio de Janeiro, vindos do interior do Sul, e encontram uma solução monetária que, de cara, parece despropositada e insana: oferecer jantares com carne humana - ou, como chamam "carne de gaivota" - para a elite carioca (no desenrolar do livro a situação parecerá palatável para alguns personagens e cada vez mais intragável para outros).
A partir dessa proposta o autor explora a trama em trezentas e cinquenta páginas de adrenalina e tensão, brincando com as sensações do leitor e oferecendo a este a oportunidade de uma conversa - a narrativa, por vezes, se mostra nesse tom – com os personagens e as ações.
Com humor ácido, Raphael Montes tece uma teia de situações que testam seus personagens tão quão testa o leitor e traz reflexões importantes sobre julgamentos morais e atitudes questionáveis – inclusive o narrador, Dante, faz vários comparativos com o asco que é criado em cima do ato de comer carne humana com o ato de comer carne de qualquer outro animal (não justificando, mas como crítica social mesmo).
O livro é incrível, mas não é uma leitura fácil – embora fluída, a narrativa é bastante pesada e a narrativa de horror detalhada. Recomendo, mas vão preparados. Vocês já leram outras coisas do autor? Vocês gostam desse gênero? Comenta aí.
Um grupo de jovens deixa uma pequena cidade no Paraná para viver no Rio de Janeiro. Eles alugam um apartamento em Copacabana e fazem o possível para pagar a faculdade e manter vivos seus sonhos de sucesso na capital fluminense. Mas o dinheiro está curto e o aluguel está vencido. Para sair do buraco e manter o apartamento, os amigos adotam uma estratégia heterodoxa: arrecadar fundos por meio de jantares secretos, divulgados pela internet para uma clientela exclusiva da elite carioca. No cardápio: carne humana. A partir daí, eles se envolvem numa espiral de crimes, descobrem uma rede de contrabando de corpos, matadouros clandestinos, grã-finos excêntricos e levam ao limite uma índole perversa que jamais imaginaram existir em cada um deles.
Raphael é o autor nacional que mais admiro no cenário nacional. Deu o que fazer, mas consegui a muito custo, ter os quatro livros já lançados pelo autor e vou admitir que de todos os livros lançados, Jantar Secreto é realmente o mais difícil de ser degustado, no bom sentido. É visceral demais, a gente se pega nas cenas e em alguns momentos, até o olfato nos engana e a gente sente o cheiro de sangue, misturado à desespero.
ResponderExcluirO humor ácido, negro e a maneira única de desenhar as cenas, construir os personagens e colocar sentimentos macabros em cada um deles, é o jeito maravilhoso que o autor tem.
Espero que logo venham mais histórias assim.rs
Super recomendado a quem tem estômago forte!
Beijo
Ronaldo!
ResponderExcluirJá li outros livros do autor e agora quero conferir mais esse que apesar de repugnante a um primeiro momento, nos leva mesmo a questionar sobre nossa hipocrisia, porque se comemos carne de outros animais, por que questionar quem come carne humana?
Veja! Não estou fazendo apologia ao canibalismo, mas até entendo que existam seres humanos que paguem quantias exorbitantes para participarem desses eventos...
Gosto do humor ácido do autor.
Maravilhosa semana!
“O meu objetivo é colocar no papel aquilo que vejo e aquilo que sinto da mais simples e melhor maneira.. “(Ernest Hemingway)
cheirinhos
Rudy