No Seu Pescoço – Chimamanda Ngozi Adichie

Doze narrativas. Doze histórias. Doze protagonistas. Doze mulheres. No Seu Pescoço se cabe em doze, mas as vozes que ecoam em canto conto, em cada diálogo, em cada contexto resulta de uma matemática muito mais extensa: fala-se por um povo, por uma cultura, por um continente. Chimamanda faz isso – e faz bem, de maneira responsável, dolorida, sutil e catastrófica. O deleite de sua literatura aqui é particularizado em cada um dos contos, mas é amplo, muito amplo, costurado com palavras certeiras e escolhidas de maneira primorosa.

Não foi meu primeiro contato com a autora, mas foi a primeira vez que senti como se ela fosse um dos nomes mais fortes e promissores da literatura contemporânea mundial. Antes, tendo lido os ensaios Sejamos todos feministas e Para educar crianças feministas, já sabia quais temas lhe eram caros. Mas a chance de conhece-la através da ficção reafirmou meu gosto por dizer que não se pode sair de suas palavras sem ser atravessado por um incômodo importante – que a princípio o leitor mais desatento não saberá o que é, mas não se demorando a descobrir o que a autora consegue tocar.

E ela toca mesmo. Vai tocando de maneira a gente não saber direito quais são as afetações que nos aguardam na página seguinte, e na outra e na outra. Sua literatura é demarcada por temas como desigualdade de gênero, política, intolerância religiosa, relações familiares e amorosas, preconceito racial, imigração e coisas outras. Primordialmente tratados sob a ótica do seu continente. Uma escrita emita por sua voz forte, que não apenas diz a que veio, grita a que veio.

Esses gritos são emitidos e ouvidos da primeira a última página de No Seu Pescoço. Não atentarei para as particularidades de cada um dos contos, mas, a cargo de exemplo, a história que dá título ao livro é sobre uma jovem africana que consegue um visto e vai morar nos Estados Unidos – achando que as coisas seriam menos pesadas, que a vida e o sonho podem ser possíveis. Dessa narrativa ela desdobrará um cenário de relacionamentos conflituosos, preconceito e, principalmente, “do lugar onde verdadeiramente você pertence”.

Os caminhos trilhados pela literatura que a Chimamanda produziu neste livro de maneira específica é que são curiosos – e é o que fazem dela, a me ver, um nome autêntico, uma voz impossível de não ser ouvida. Ela experimenta. Ela não se basta no convencionalismo narrativo, o reinventa. Descobre novas maneiras de fazer o leitor experienciar as situações – em contos narrados, inclusive, em segunda pessoa. Confundem-se leitor e protagonista (e há um ponto em que a sensação é de que ambos sejam um só). 

Não acho que tenho muita bagagem para julgar especificamente este livro da Chimamanda dentro da sua produção editorial como um todo (foi a primeira ficção dela que li) mas de uma coisa eu tenho certeza: não há como não querer voltar. Não há como passar despercebido. Não há como não querer correr para livraria mais próxima e, sem fôlego, falar para o vendedor: me vê tudo que tiver o nome dela na capa.

Experimentem e me digam se não é essa a sensação.

A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie vem conquistando um público cada vez maior, tanto no Brasil como fora dele. Em 2007, seu romance Meio sol amarelo venceu o National Book Critics Circle Award e o Orange Prize de ficção, mas foi com o romance seguinte, Americanah, que ela atingiu o volume de leitores que a alavancou para o topo das listas de mais vendidos dos Estados Unidos, onde vive atualmente. Ao trabalho de ficcionista, somou-se a expressiva e incontornável militância da autora em favor da igualdade de gêneros e raça. Agora é a vez de os leitores brasileiros conhecerem a face de contista dessa grande autora já consagrada pelas formas do romance e do ensaio. Publicado em inglês em 2009, No seu pescoço contém todos os elementos que fazem de Adichie uma das principais escritoras contemporâneas. Nos doze contos que compõem o volume, encontramos a sensibilidade da autora voltada para a temática da imigração, da desigualdade racial, dos conflitos religiosos e das relações familiares. Combinando técnicas da narrativa convencional com experimentalismo, como no conto que dá nome ao livro — escrito em segunda pessoa —, Adichie parte da perspectiva do indivíduo para atingir o universal que há em cada um de nós e, com isso, proporciona a seus leitores a experiência da empatia, bem escassa em nossos tempos.


7 comentários

  1. Por ser apaixonada por contos, quando este livro foi lançado já o quis muito! Daí, começaram as resenhas e tudo que ali até o momento, foi positivo demais.
    Não é apenas a luta de todo um povo, é um grito por "me olhe, estou aqui."
    Só tive contato com as letras da autora pelo mundo da internet, trechos aqui, acolá,mas já foi suficiente para saber que ela sabe muito bem o que traz não somente por si, mas por todo seu povo!
    Já está na lista de desejados.
    Beijo

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  2. Ronaldo!
    Não li ainda nenhum dos livros da autora, mas sempre leio as resenhas e os livros dela trazem sempre polêmicas relevantes e mostra o quanto as realidades são diferentes e crueis.
    Acho importante ter autoras como ela que levantam a bandeira e a discussão de assuntos bem relevantes.
    E como leitores, temos sim a capacidade de avaliar qualquer autor, afinal, somos formadores de opinião.
    Um maravilhoso final de semana!
    “Acredite que você pode, assim você já está no meio do caminho.” (Theodore Roosevelt)
    cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA FEVEREIRO: 3 livros + vários kits, 5 ganhadores, participem!
    BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!

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  3. Oi Ronaldo
    Essa autora realmente está me conquistando muito pela forma como ela aborda assuntos como o feminismo e o preconceito.
    Sabia que era uma ficção mas não tinha conhecimento do livro conter contos. Ainda não li mas assim como o "Sejamos todas feministas", pretendo ler em breve.
    Como é importante esses temas tão importantes serem expostos ao mundo. Melhor ainda é quando isso acontece de uma forma tão bem escrita como você descreveu que a autora faz. Eu fico muito tocada quando leio algo do gênero e fiquei muito feliz de saber que isso acontece do inicio ao fim da obra. Só pelo pouco que você contou sobre a história referente a capa já imagino o sofrimento e as dificuldades da moça em ir para um país distante e sofrer com preconceitos totalmente desnecessários por parte das pessoas.
    Imagino que como leitor ávido que você é tem uma bagagem sim pra julgar um pouco hahaha Também quero ler todos os livros da autora pois apesar do contato apenas com 1 livro já amei.

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  4. Oi Ronaldo!
    Não sou fã de contos, acredito que histórias merecem ser "por inteiras", acho que dá para me entender, mas tenho que dizer que muitas vezes me deparo com obras nesse estilo que me surpreende, o que aconteceu nesse caso. Imagino que a autora - não á conhecia - tenha colocado muito de si nesses contos, e claro que vemos o quão importante e pouco tratados são os temas que ela apresenta.
    Minha curiosidade foi despertada, e também me chamou atenção o nome de outras obras que leva o nome da mesma autora, sem dúvidas irei ler.
    Beijos

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  5. Oiii! Meu contato com a autora também foi pelos ensaios que você citou, mas foi o suficiente para eu gostar muito da autora. A sua resenha só me fez querer mais ainda ler Chimamanda.

    Bjs

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  6. Oi Ronaldo,

    Agora quero além de te caçar, quero casar contigo, como assim Chimamanda?

    #apaixonadaPorVocê

    Como deixar de ler este blog?

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