Ler John Green é sempre uma expectativa. Desde A Culpa é das Estrelas – juro que evitarei comparações nessa resenha, mas algumas coisas são inevitáveis – o autor vem me encantando com seu jeito de contar histórias, sua maneira peculiar de construir personagens, seu manejo com a narrativa – sempre despretensiosa e afiada.
Tartarugas até lá embaixo é um livro tipicamente Green. Para quem não conhece a obra do autor, eis um bom retrato: é adolescente, é dramático sem exageros ou pedantismos e é genuinamente um prato cheio de confusas questões sobre ser jovem e ter a vida inteira pela frente – ou não.
A história do livro gira em torno de Aza Holmes. Ela é uma garota que está no ensino médio e, para além de lidar com todos os problemas consequentes disso, ainda precisa andar rotineiramente de mãos dadas com nada menos que uma ansiedade que a consome e um transtorno obsessivo-compulsivo que a desloca das situações e a joga em um universo cheio de inconformidades.
Aza tem uma amiga: Daisy. Uma amiga que parece seu total oposto. E que quer desvendar o desaparecimento de um milionário – porque achá-lo significaria angariar para suas respectivas contas bancárias uma bufunfa significativo de cem mil dólares. Isso mesmo: CEM. MIL. DÓLARES.
Mas para isso Aza terá de enfrentar seu passado na figura de Davis, filho desse milionário desaparecido, por quem ela já foi apaixonada muito tempo atrás e que mora do outro lado do rio. No meio de tudo isso ainda precisa lidar ainda com: a saudade que sente do pai, a preocupação recorrente da mãe e o afeto e empatia que criou pelo irmão do Davis.
O livro é ótimo. Estou falando isso porque farei uma ou outra reclamação até o final desta resenha, mas até lá quero que saibam: o livro é mesmo ótimo. A narrativa não é travada, as situações não são de todo inesperadas, mas ainda assim prendem o leitor, e os personagens “centrais” do enredo são bem construídos e desenvolvidos na medida certa.
A narrativa pela perspectiva da Aza fez com que o Green elaborasse bem uma das temáticas principais que ele se propôs a abordar no livro: a protagonista lidando com ela mesma, com suas inquietações, com seus inúmeros e incontáveis problemas, com suas crises. O autor foi feliz em tratar do assunto com responsabilidade, criando no leitor a sensação de sufocamento, tal qual Aza vivia no meio de um ataque de pânico, ansiedade ou TOC.
Os outros personagens também são bastante precisos. A personalidade da Daisy cativa – ela é irônica, sincera e absurdamente divertida – a construção dramática do Davis é eficiente, e os outros personagens que rodeiam esse núcleo central também são importantes para que a trama se desenrole.
Mas acho que a sinopse do livro promete uma coisa que a história não se efetiva em oferecer – e para mim isso é ótimo, mas pouco justo com o leitor que vai atrás pelo gostinho de mistério que a sinopse tenta apresentar. A narrativa definitivamente não é focada na busca da Aza e da Daisy pelo milionário (ao contrário, isso parece ser só mais um detalhe de tudo). O foco mesmo é nas relações: nas que a Aza tem com ela mesma, com as pessoas que estão ao lado dela. Passa nas beiradas do mistério, mas o gostinho mesmo vale pela maneira como ela atravessa esses dramas e problemas – não como ela os resolve, porque sequer resolve.
Tartarugas até lá embaixo é inquietante, entremeado por filosofias e genuinamente adolescente. É John Green. Para quem já gosta do autor é um prato inteirinho de possibilidades para explorar mais sua obra; para quem ainda não experienciou nenhum dos livros precedentes, acho que é um bom livro introdutório.
Particularmente, como um leitor ávido do Green, posso dizer: acertou em cheio e de maneira bastante louvável.
Depois de seis anos, milhões de livros vendidos, dois filmes de sucesso e uma legião de fãs apaixonados ao redor do mundo, John Green, autor do inesquecível A culpa é das estrelas, lança o mais pessoal de todos os seus romances: Tartarugas até lá embaixo.
A história acompanha a jornada de Aza Holmes, uma menina de 16 anos que sai em busca de um bilionário misteriosamente desaparecido – quem encontrá-lo receberá uma polpuda recompensa em dinheiro – enquanto lida com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Repleto de referências da vida do autor – entre elas, a tão marcada paixão pela cultura pop e o TOC, transtorno mental que o afeta desde a infância –, Tartarugas até lá embaixo tem tudo o que fez de John Green um dos mais queridos autores contemporâneos. Um livro incrível, recheado de frases sublinháveis, que fala de amizades duradouras e reencontros inesperados, fan-fics de Star Wars e – por que não? – peculiares répteis neozelandeses.
Ronaldo!
ResponderExcluirSabia que o John Green foi diagnosticado com TOC?
Deve ser muito complicado sentir pensamentos intrusivos constantemente 'entrarem' na nosa mente e tornarem a vida bem complicada.
Gostei de ver que além do mistério do desaparecimento, outros temas foram aborados, como a injustiça e questões existenciais.
Claro que quero fazer essa leitura.
Desejo Um ótimo final de semana e Novo Ano repleto de realizações!!
“Chega de velhas desculpas e velhas atitudes! Que o ano novo traga vida nova, como o rio que sai lavando e levando tudo por onde passa.” (Desconhecido)
cheirinhos
Rudy
1º TOP COMENTARISTA do ano 3 livros + Kit de papelaria, 3 ganhadores, participem!