Conto: Esperança

O amor é um bicho complicado, quando ele toma conta da gente faz um estrago imenso, ainda mais quando não é recíproco. Isso acontece comigo, amo um rapaz que nem sabe da minha existência. Meu consolo é vê-lo todos os dias nos braços de outra. Isso mesmo, ele tem outra pessoa. Meu sofrimento maior é vê-lo trocar carícias e beijá-la, restando a mim apenas a sensação de dor e vazio por não ser eu a pessoa que está em seus braços.

Meu amor começou já faz um tempo, quando o vi pela primeira vez, ouvi sua voz, senti seu cheiro, mas a gota d’água foi vê-lo sorrir; senti naquele momento que havia perdido meu coração. Desde aquele instante o procuro em cada canto e em cada lugar que vou.

Sonhei com o dia em que chegaria até ele e daria um bom dia, puxaria um assunto qualquer, trocaria um sorriso, mas foi aí que minhas ilusões foram desfeitas, quando o vi junto a ela.

E como ela é linda! Vocês formam o casal mais perfeito que já conheci, parece coisa de Deus tanta perfeição junta. Mas ela se esquiva quando ele tenta beijá-la, ela disfarça quando ele olha em seus olhos, ela não demonstra o mesmo amor que ele. Talvez seja por isso que se sinta preso a ela, pela conquista diária.

Comigo seria diferente, eu correria para seus braços sempre que você me sorrisse, eu te beijaria com tanto amor que seria capaz de sufocá-lo, eu seria a mulher que sempre sonhou ter.

Mas me satisfaço em olhar vocês dois juntos enlaçados e eternamente enamorados.

Pensei em escrever uma carta declarando meu amor, mandaria de forma anônima apenas para você perceber que tem alguém por perto que te ama intensamente, quem sabe assim olharias para os lados, perceberia minha presença, ou pelo menos veria que ela não é a única mulher que existe. Seria minha única chance de ser notada.

Mas covarde como sou, não escreverei nem mesmo uma linha, manterei distância, não quero ser eu o pivô de um amor desfeito. Presunção a minha, nunca seria páreo para ela.

Fico aqui no meu cantinho, oculta atrás de portas, paredes e muros. Mantendo-me oculta de olhares que possam me denunciar.

Quem sabe esse meu tormento um dia chegue ao fim e alguém cruze meu caminho, quebrando o feitiço que é esse meu amor platônico. Tenho esperanças que isso aconteça, pois sei que nunca terei seu amor.

E no meu mundinho alheia a tudo e a todos, ando de cabeça baixa, suspirando e divagando com momentos que nunca se realizarão. Num desses momentos de repente sinto um cheiro, uma sensação, sei que ele está por perto, meu corpo entra em combustão, o sangue ferve, o coração dispara... Será? Então ouço a voz...

— Oi, menina linda. Nunca te vi por aqui, está perdida?! Qual seu nome?

Meu mundo se encheu de estrelas, um sorriso se formou aos poucos, e mais que depressa me vejo presa em seus olhos, no seu sorriso lindo, inebriada pelo seu perfume.

Olho a meu redor e vejo ela ao longe com seus braços enlaçados em outro rapaz, com sorrisos bobos, e percebo que vocês não estão mais juntos e que você está aqui, na minha frente, sorrindo para mim, e perguntando meu nome.

— Oi, não estou perdida. Estou sempre aqui, meu nome é Esperança.

Finalmente um papo, uma risada destinada a mim e seus olhos nos meus. Será que finalmente meu maior desejo se tornará realidade?!

Saímos dali caminhando juntos. Esperança é o meu nome e nesse momento o meu maior sentimento.

5 comentários

  1. Ahhhhh, amei!

    Lena, que lindo! Finalmente um conto que me deu alegria.

    Torcendo para que ele perceba o quanto ela o ama e fiquem juntos para sempre.

    Bjs

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    1. Obrigada Ju, tudo correrá bem de agora em diante para esses dois corações.
      Beijos!

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  2. Puxa vida, fui lendo, lendo e não liguei o nome do conto a revelação final. Mesmo que pareça uma metáfora ficamos nada dúvida se sim ou não, adorei o que o texto transmitiu. A Esperança está em toda parte, dentro de cada um.

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    1. A ideia foi essa mesma Clóvis, um final que fizesse o leitor reler o conto, rs.
      Esperança é a última que morre, sem ela quem somos nós?!

      Beijos!

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