Amei o eixo temático das postagens de aniversário! Especialmente porque a frase “Para cada leitor, um livro” particulariza o gosto bem como privilegia a liberdade de escolha. Nada como acolher diferentes predileções literárias! Assim tudo fica bem ao gosto personalíssimo do freguês.
Isso me deixa aliviada, pois se cria um clima propício para o debate de ideias. Sem contar que não vou precisar lançar mão do artifício do pisar em ovos para trazer o recado do dia. Já que o espírito da coisa é a recepção de gostos divergentes, espero que o meu texto seja compreendido em sua relatividade.
Isso posto, vamos ao assunto do post. Quando Leninha sugeriu que eu abordasse o tema “Febres Literárias”, pensei: “logo eu que tenho procurado me esquivar desses entusiasmos momentâneos”! Não vou entrar no mérito da profundidade e qualidade de conteúdo dos livros produzidos para virarem manias. Acredito que cada leitor saiba o para quê e o porquê de sua escolha de leitura. Ademais, é justo que, em nome da liberdade, cada um escolha o que quer ler. Então, não é por aí que estendo as minhas considerações. Ao invés de visualizar o fenômeno como algo externo, coloco-me como peça dessa mesma engrenagem. Olhando para o meu mundo interno consigo visualizar a problemática com um olhar que me inclui e me responsabiliza.
Diante de um fazer literário que se presta mais ao mercado de consumo do que ao texto e à leitura, passei a prestar atenção à febre que arde dentro de mim. Qual o tipo de energia que emprego no ato de aquisição de livros? É uma energia saudável e renovável? É muito fácil ser tolerante quando o assunto é consumismo literário. Por ser tratar supostamente de leitura, o vício consumista é visto com bons olhos. Pouco se fala sobre o papel da indústria cultural, mais especificamente sobre como tem colocado o espetáculo acima do texto, da linguagem, do livro, da leitura. A febre do marketing literário é um artefato paradigmático desse tempo. Induz as vontades ao criar necessidades que antes eram prescindíveis. Vale tudo para encantar o leitor. Até mesmo dizer que gatos são lebres. Eu já levei muitos embrulhos fechados pra casa e, ao abri-los, tive a minha cota de surpresas desagradáveis. E aqui entra em cena o peso da minha responsabilidade como leitora.
Quando da época em que fui mais blogueira que leitora, alimentei a minha febre literária num circulo vicioso de consumo e prazer. Até me deparar com uma pilha de livros não lidos e sem circular. Energia nada limpa essa! Comprava livros e mais livros, corria atrás de um lançamento após outro, como se buscasse neles uma espécie de complexo vitamínico que me mantivesse robustecida de novidades.
Que loucura hipocondríaca!
Quanto mais eu comprava, mais os livros iam perdendo a graça. Ironicamente, eles não custaram nadinha de graça. Somado a tudo isso, entrei na febre de ler, ler, ler e ler como forma de me sentir atualizada das coisas. Confesso que me diverti com isso até me cansar da redundância temática. Essa é uma característica marcante desse fenômeno que faz com que jorre de uma fórmula de sucesso uma profusão incontável de histórias com o mesmo tema. Isso não é pra mim. Descobri em mim o antídoto: não me confino a um só interesse. Formei-me leitora para poder satisfazer a minha curiosidade por temas variados e isso não vai mudar.
Falando assim podem pensar que condeno o marketing e as febres literárias. Não os condeno, pois os problemas não estão apenas neles. A forma como lido com tais influências tem grande peso. Hoje vejo que esse contato febril com o mercado literário também forjou a leitora que sou. Agora, gerencio o que entra não só na minha estante como também na minha consciência. Sei onde encontrar os livros que quero ler, independente das ilhas de livraria e das publicidades abundantes nos sites e nas redes sociais. Porque seguir minhas intuições, dedicar-me à leitura prévia do título, investigar o autor e tirar as minhas próprias conclusões é parte da preservação da minha autonomia.
Isso me faz lembrar o quanto tenho me distanciado dos burburinhos sobre um livro e outro. Não que não goste de indicações. Gosto sim. Porém, as prefiro acompanhadas de um bom dedo de prosa cuja única regra seja a de me poupar da febre dos spoilers. Infelizmente, é mais difícil manter-me imune a esse tipo de influência. Porque depende do respeito à etiqueta do diálogo. Como disse acima, a escolha e leitura de um livro é questão de autoria do ato. É parte do prazer a que o leitor tem direito. E eu não abro mão desse prazer-direito. Faz parte do meu ritual de leitura. Além de nada saudável, o spoiler tem gosto de leitura feita, ainda que o alimento seja ingerido contra a vontade. A imagem de comer a comida mastigada por outrem não me é agradável. O efeito disso não é nada terapêutico. Mas, percebam: não é pessoal. Apenas dou voz ao direito de desfrutar o deleite de ler com os olhos de quem lê pela primeira vez, sem as interferências da interpretação alheia.
Por outro lado, quando o assunto é socialização da leitura, a coisa muda de figura. Os livros que eu mais me esforcei em obter e ler foram aqueles comentados apaixonadamente em rodas de conversas com amigos ou conhecidos. Quem não se sente influenciado por indicações ávidas de quem gostou do que leu? Por isso, considero um prazer imenso partilhar com os outros as emoções sentidas antes, durante e depois da leitura. Aqui vale uma nota de distinção: partilha agrega enquanto o spoiler afasta. Partilha é diálogo. Spoiler, monólogo. Ah, sim. Vale lembrar que o diálogo se ampliou com o surgimento da coqueluche dos novos tempos: as tecnologias de comunicação. Essa febre inoculada pela necessidade de encontro e partilha é energia limpa, renovável e que dá gosto.
Falando nisso, ouvi dizer que a era atual da informação, onde o conhecimento tem prazo de validade curto, favorece o surgimento de uma infinidade de surtos epidêmicos de ansiedade, estresse, entre outros distúrbios. É clássico culpar a janela pela paisagem. Não culpemos as eras. A vida não existe sem tensões e contradições. Por isso, é mais útil olhar pra dentro e encarar a febre particular que nos consome. No tocante à minha relação com os livros, encarei os meus caprichos e excessos. E percebi que a leitura é vitamínica, mas em doses exageradas, até ela pode ser veneno. Hoje não mais dada aos arroubos consumistas, tenho me dedicado também a arte de não ler. Aquietei-me. Mas, mesmo com espírito pacificado, ainda assim há os resíduos tóxicos com os quais lidar. Afinal, as pilhas adquiridas quando do meu estado anterior ainda existem e sinalizam a necessidade de desocupação de espaço físico e emocional.
Isso me deixa aliviada, pois se cria um clima propício para o debate de ideias. Sem contar que não vou precisar lançar mão do artifício do pisar em ovos para trazer o recado do dia. Já que o espírito da coisa é a recepção de gostos divergentes, espero que o meu texto seja compreendido em sua relatividade.
Isso posto, vamos ao assunto do post. Quando Leninha sugeriu que eu abordasse o tema “Febres Literárias”, pensei: “logo eu que tenho procurado me esquivar desses entusiasmos momentâneos”! Não vou entrar no mérito da profundidade e qualidade de conteúdo dos livros produzidos para virarem manias. Acredito que cada leitor saiba o para quê e o porquê de sua escolha de leitura. Ademais, é justo que, em nome da liberdade, cada um escolha o que quer ler. Então, não é por aí que estendo as minhas considerações. Ao invés de visualizar o fenômeno como algo externo, coloco-me como peça dessa mesma engrenagem. Olhando para o meu mundo interno consigo visualizar a problemática com um olhar que me inclui e me responsabiliza.
Diante de um fazer literário que se presta mais ao mercado de consumo do que ao texto e à leitura, passei a prestar atenção à febre que arde dentro de mim. Qual o tipo de energia que emprego no ato de aquisição de livros? É uma energia saudável e renovável? É muito fácil ser tolerante quando o assunto é consumismo literário. Por ser tratar supostamente de leitura, o vício consumista é visto com bons olhos. Pouco se fala sobre o papel da indústria cultural, mais especificamente sobre como tem colocado o espetáculo acima do texto, da linguagem, do livro, da leitura. A febre do marketing literário é um artefato paradigmático desse tempo. Induz as vontades ao criar necessidades que antes eram prescindíveis. Vale tudo para encantar o leitor. Até mesmo dizer que gatos são lebres. Eu já levei muitos embrulhos fechados pra casa e, ao abri-los, tive a minha cota de surpresas desagradáveis. E aqui entra em cena o peso da minha responsabilidade como leitora.
Quando da época em que fui mais blogueira que leitora, alimentei a minha febre literária num circulo vicioso de consumo e prazer. Até me deparar com uma pilha de livros não lidos e sem circular. Energia nada limpa essa! Comprava livros e mais livros, corria atrás de um lançamento após outro, como se buscasse neles uma espécie de complexo vitamínico que me mantivesse robustecida de novidades.
Que loucura hipocondríaca!
Quanto mais eu comprava, mais os livros iam perdendo a graça. Ironicamente, eles não custaram nadinha de graça. Somado a tudo isso, entrei na febre de ler, ler, ler e ler como forma de me sentir atualizada das coisas. Confesso que me diverti com isso até me cansar da redundância temática. Essa é uma característica marcante desse fenômeno que faz com que jorre de uma fórmula de sucesso uma profusão incontável de histórias com o mesmo tema. Isso não é pra mim. Descobri em mim o antídoto: não me confino a um só interesse. Formei-me leitora para poder satisfazer a minha curiosidade por temas variados e isso não vai mudar.
Falando assim podem pensar que condeno o marketing e as febres literárias. Não os condeno, pois os problemas não estão apenas neles. A forma como lido com tais influências tem grande peso. Hoje vejo que esse contato febril com o mercado literário também forjou a leitora que sou. Agora, gerencio o que entra não só na minha estante como também na minha consciência. Sei onde encontrar os livros que quero ler, independente das ilhas de livraria e das publicidades abundantes nos sites e nas redes sociais. Porque seguir minhas intuições, dedicar-me à leitura prévia do título, investigar o autor e tirar as minhas próprias conclusões é parte da preservação da minha autonomia.
Isso me faz lembrar o quanto tenho me distanciado dos burburinhos sobre um livro e outro. Não que não goste de indicações. Gosto sim. Porém, as prefiro acompanhadas de um bom dedo de prosa cuja única regra seja a de me poupar da febre dos spoilers. Infelizmente, é mais difícil manter-me imune a esse tipo de influência. Porque depende do respeito à etiqueta do diálogo. Como disse acima, a escolha e leitura de um livro é questão de autoria do ato. É parte do prazer a que o leitor tem direito. E eu não abro mão desse prazer-direito. Faz parte do meu ritual de leitura. Além de nada saudável, o spoiler tem gosto de leitura feita, ainda que o alimento seja ingerido contra a vontade. A imagem de comer a comida mastigada por outrem não me é agradável. O efeito disso não é nada terapêutico. Mas, percebam: não é pessoal. Apenas dou voz ao direito de desfrutar o deleite de ler com os olhos de quem lê pela primeira vez, sem as interferências da interpretação alheia.
Por outro lado, quando o assunto é socialização da leitura, a coisa muda de figura. Os livros que eu mais me esforcei em obter e ler foram aqueles comentados apaixonadamente em rodas de conversas com amigos ou conhecidos. Quem não se sente influenciado por indicações ávidas de quem gostou do que leu? Por isso, considero um prazer imenso partilhar com os outros as emoções sentidas antes, durante e depois da leitura. Aqui vale uma nota de distinção: partilha agrega enquanto o spoiler afasta. Partilha é diálogo. Spoiler, monólogo. Ah, sim. Vale lembrar que o diálogo se ampliou com o surgimento da coqueluche dos novos tempos: as tecnologias de comunicação. Essa febre inoculada pela necessidade de encontro e partilha é energia limpa, renovável e que dá gosto.
Falando nisso, ouvi dizer que a era atual da informação, onde o conhecimento tem prazo de validade curto, favorece o surgimento de uma infinidade de surtos epidêmicos de ansiedade, estresse, entre outros distúrbios. É clássico culpar a janela pela paisagem. Não culpemos as eras. A vida não existe sem tensões e contradições. Por isso, é mais útil olhar pra dentro e encarar a febre particular que nos consome. No tocante à minha relação com os livros, encarei os meus caprichos e excessos. E percebi que a leitura é vitamínica, mas em doses exageradas, até ela pode ser veneno. Hoje não mais dada aos arroubos consumistas, tenho me dedicado também a arte de não ler. Aquietei-me. Mas, mesmo com espírito pacificado, ainda assim há os resíduos tóxicos com os quais lidar. Afinal, as pilhas adquiridas quando do meu estado anterior ainda existem e sinalizam a necessidade de desocupação de espaço físico e emocional.
Mas, tudo bem. Sem estresse. As pilhas são reflexos do meu mundo interior. Enxergo-me nelas e essa consciência é o meu passaporte para a mudança. Elas testemunham a minha caminhada. Toda vez que olho para o amontoado de livros que acumulei desenfreadamente, lembro-me de não me deixar largada ao ímpeto de ler o que todo mundo está lendo só porque é o que todo mundo está lendo. Tornou-se um exercício interessante parar e refletir sobre quais livros são desejáveis ter e quais não ter. Vi que não preciso de uma estante tão grande. Vez ou outra, pergunto-me: porque comprei esse livro mesmo? De fato, é instrutivo deparar-me com livros que não me representam mais naquilo que hoje sou. Mas, não deixa de ser custoso manter essa fonte de energia acumulada e desperdiçada pegando pó na prateleira. Em razão disso, conto-lhes a minha descoberta maior: desapegando-me dos meus livros, descobri que tenho posse de mim mesma. E isso me basta.
Antes de despedir-me, deixo registrado um sonoro parabéns à Leninha pelo aniversário do blog. Muita luz pra você e pro Sempre Romântica.
Um grande abraços a todos!
Onde Estou:
Ei meninas
ResponderExcluirEntendemos bem o que é isso, eu acho que tenho uma febre literária que não passa rs, mas por livros e não por determinado estilo. Procuro alternar e ler um pouco sobre tudo, as modinhas normalmente me cansam bem rápido.
bjs
Oi, Fernanda! A minha febre de livros deu uma baixada. Dos livros apenas. Pois a leitura tem sido minha companheira de longa data. Obrigada pelo comentário. Seguimos!
ExcluirSENSACIONAL Vivi!
ResponderExcluirQue texto incrível! Tenho a sensação de que você o escreveu para mim, pois me vi em cada uma de suas palavras!
As montanhas de livros compradas no impulso estão aqui, mas aos poucos tenho conseguido praticar o desapego e ficar somente com aqueles livros que acrescentaram algo para mim!
Tenho me curado das febres literárias e isso me dá um grande alívio! =)
Vou compartilhar esse texto lindo!
=)
Beijo
Que bom que gostou, Lívia! É bom saber que não estamos trilhando um caminho solitário. Mesmo distantes, estamos conectados na mesma rede. Força aí!
ExcluirSerá que consigo absorver por osmose algumas dicas desse texto? Estou precisando!!!!! Sou bem compulsiva em se tratando de livros, principalmente em se tratando de alguns gêneros literários de que mais gosto, e às vezes me arrependo bastante dos que comprei e li, e daqueles acumulados que ainda não li, comprados meio que no impulso e no calor da maldita promoção. Tipo, será que não gastei dinheiro à toa, e se eu ainda não os li (já que não tinham prioridade), e passei outros na frente, então, porque ter comprado aquele que ficou para trás, apenas ocupando um espaço na estante já lotada???? Tenho tentado me segurar bastante e diminuir a compra desenfreada, e ler o que ainda não foi lido. Mas como é difícil!!!!! Não vou nem mencionar a "arte" do desapego.....Tragédia!!!!!!
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