Das
bibliotecas
Olá!
Na coluna de hoje, resolvi
trazer à baila um pouquinho da minha visão de leitora comum (fique claro!)
sobre as bibliotecas.
Para começo de conversa, sapeco
uma confissão: há dez anos não frequento bibliotecas públicas. Acomodei-me à
facilidade tecnológica de adquirir meus livros ao zás-trás de um clique. Vou dizer,
satisfazer o meu apetite por uma leitura caseira é coisa que adoro fazer. Para
tanto, quando preciso obter alguma obra com urgência, tem-me sido bem mais
atrativo e aconchegante optar pelas livrarias locais.
Por essas bandas de cá, o que sinto mesmo é a falta de bibliotecas com jeitão de biblioteca, sabe? Daquelas que, esbanjando fôlego de vida cultural, propiciam um encontro favorável entre gentes e livros. Vou rasgar o verbo: estou falando das bibliotecas com fome de leitura e de leitor mesmo.
Por essas bandas de cá, o que sinto mesmo é a falta de bibliotecas com jeitão de biblioteca, sabe? Daquelas que, esbanjando fôlego de vida cultural, propiciam um encontro favorável entre gentes e livros. Vou rasgar o verbo: estou falando das bibliotecas com fome de leitura e de leitor mesmo.
Quando penso em adentrar em
uma biblioteca, não quero fazê-lo apenas a partir de uma perspectiva turística,
isto é, de como quem se encanta por sua arquitetura magistral, estando longe de
desfrutar a experiência de estar ali com a familiaridade de um usuário assíduo.
Bibliotecas devem ser mais do que pontos
turísticos, devem ser mais do que um palco montado para apresentações teatrais,
cantorias e palestras. Devem ser mais do que um local de estudo para concursos
públicos e tarefas escolares. É preciso reconhecê-las como sendo mais do que uma
combinação conceitual de edifício, livros e de tudo que listei acima, pois são
experiências singulares na vida de um leitor.
Eu tenho uma biblioteca de
estimação. Tive a sorte de frequentá-la em minha infância. Localizava-se em uma salinha cedida pela
Administração de Taguatinga, uma das mais importantes cidades-satélites de
Brasília. Não havia mesas e cadeiras para além das que a bibliotecária usava, afinal,
o foco era o empréstimo única e exclusivamente.
Hoje ela não existe mais. Mora apenas nas minhas memórias e no meu
coração. O seu acervo, pelo que soube, migrou para a Biblioteca Machado de
Assis situada também em Taguá. Vou contar a vocês o porquê de tê-la de forma
tão especial em minhas melhores lembranças de leitora. São vários fatores que
me levaram a carregá-la dentro d’alma, mas para poupar-lhes a paciência e o
tempo, segue-se abaixo um flashback dos melhores momentos:
- Ia acompanhada de minha
saudosa mãe cujo prazer em ver-me feliz bastava para justificar a sua ausência
em qualquer outro lugar. Ocupada como era, estar ali à espera de uma leitora
compulsiva concentrada na missão hercúlea de escolher um punhado de livros foi
um senhor ato de amor. Obrigada, mãezinha!
- Como esquecer a minha
primeira atuação como sócia (carteirinha e tudo!)? Só leitor fissurado pode entender
a importância desse momento.
- Lá, aprendi (mesmo com
algumas intervenções firmes e assertivas da Zoilda, a bibliotecária) a escolher
livros de meu próprio interesse.
- Aproveitando a deixa, foi lá
que relutantemente conheci o meu primeiro romance açucarado. Um Barbara
Cartland! Zoilda praticamente empurrou-o goela abaixo com o intuito de
afastar-me dos livros impróprios para menores que eu insistia em levar pra
casa. Nesse dia, bufei durante o percurso todinho de volta. Joguei-o na cama
jurando não lê-lo nem que fosse o último livro do universo. Depois, cedendo à
curiosidade, peguei-me gostando da história.
Ai, se a bibliotecária me visse lendo “Fidalgo e Ladrão” sob a luz de
penumbra da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional! E mais: acompanhada da luxuosa
trilha sonora da ópera Tosca! Resumo da ópera: a leitura de meu primeiro romance
associou-se a outro cuja narrativa cantava uma história de amor que deu errado.
Veio daí a minha boa recepção aos finais trágicos em ficção. Thanks, Zoilda!
- Por fim, aprendi a
frequentar as bibliotecas sem cobranças, pelo puro e simples prazer de ler.
Algo bem distante da prática escolar afeita ao regime punitivo, bem ao estilo “vá
agora para biblioteca ler um livro. Depois, faça um resumo de 15(!) páginas”.
Ah, bons tempos! Querem saber?
O sentimento de pertença foi muito mais significativo do que a precariedade que
ali havia.
Por essas e outras é que amo as
bibliotecas com um baita senso de gratidão. Ainda assim, continuo a abominar a tendência,
forte ou fraca, de se convertê-las em experiências bem sucedidas de sacrifício
estudantil. Sei que as bibliotecas precisam de estruturas físicas adequadas,
acervo em bom estado, atualizado e etc. Sei disso tudo. Mas o que não pode
faltar de forma alguma são leitores reais e em potencial. Infelizmente, com a
carência de um plano nacional de leitura eficaz, a gente se pergunta:
Onde estão os leitores?
Em outras palavras, de que
adiantam estantes abarrotadas de livros se não há mentes boas e preparadas para
o ato de ler? Não basta ter acesso se não há a promoção da competência para
leitura, da compreensão da leitura, do gosto pela leitura. Seja em cima de
burros, em bicicletas, em pontos de ônibus, em malas ou em edifícios, as
bibliotecas devem afetiva, intelectual e fisicamente sempre estar perto dos
seus leitores.
Afinal:
Se o leitor não se torna um amigo e um aliado, então como esperar que eleame, use, defenda e preserve as coleções de sua biblioteca?(Antônio Miranda)
Como esperar?
Boa pergunta. E que ela não seja vã.
Até a
próxima, pessoal!
Ultimamente, a última coisa pra que as bibliotecas parevem servir é pra emprestar e disponibilizar livros. E quando o fazem, você só encontra livros de mil novecentos de tralalá. Por isso comecei a comprar os meus livros: eu via na internet alguma dica (muuuito antes desse boom dos blogs literários), ia procurar na biblioteca e cadê? Só tinha livro que eu não queria ler! Sem contar que, cada vez mais lerda pra ler, não raro devolvia livros sem terminar. Acho mesmo que, como tudo na vida, o modelo de biblioteca precisa se atualizar pra voltar à sua finalidade original: difundir a leitura...
ResponderExcluirBeijos, Vivi! Adoro sua coluna. ;)
Primeira vez que visito o blog de vocês e estou amando tudinho por aqui! Já sigo, se puder retribui? Quero fazer uma promo em conjunto com vocês. Mandei uma msg pelo form de contato do blog.
ResponderExcluirBeijos!
http://palomaviricio.blogspot.com.br
Olá, Vivi!
ResponderExcluirAqui perto é difícil encontrar uma biblioteca. Mais difícil ainda é encontrar livros interessantes nela.rsrs... A biblioteca mais próxima fica há meia hora (de ônibus) daqui e só pensar em ter que viajar durante esse tempo até ela já me deixa desanimada. Prefiro ler meus livros em casa, no ônibus, etc. O próprio Brasil não incentiva a leitura e nem investe em mais bibliotecas. E são poucos os professores de português ou literatura que ajudam os estudantes a gostarem de ler. Tratam a leitura realmente como castigo para os alunos e eles passam a ver os livros como inimigos, infelizmente.
Vivi, adoro quando você aparece aqui! :) Seus posts são sempre ótimos! A gente lê cada post naturalmente, sem pressa e sem tédio. Apareça mais vezes aqui! :D
Bjs!
Obrigada, Luna! Suas palavras me motivam a sempre estar dando os meus pitacos por aqui. Existe mesmo, a olhos vistos, uma tradição anti-leitura em nosso país. Há muito discurso e pouca prática. O que é uma grande pena. Bjs
ResponderExcluirÉ mesmo, Lílian. Infelizmente, o modelo atual de biblioteca é arcaico e está longe de ser convidativo e amigável. Obrigada, querida, suas palavras de incentivo me dão um gás danado. Beijocas!
ResponderExcluirSua coluna me fez lembrar da biblioteca mais bonita que já frequentei - a biblioteca da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro - diferentemente dos livros que leio atualmente, o foco ali era a literatura científica, o que também me encantava, mas o estilo mourisco, com suas paredes e tetos rendados, tiravam quase sempre a minha atenção...era a minha veia romântica se manifestando!
ResponderExcluirInfelizmente, hoje, moro em uma cidade sem bibliotecas, e veja que estou apenas cento e vinte quilômetros da capital do estado do Rio de Janeiro! Imagino, então, como estarão outras cidades....
Uma lástima o rumo da cultura em nosso país....
Parabéns, adorei sua coluna!
Eu sempre amei ler, aprendi sozinha com 4 anos. Quando morei em Guaiba-RS ia toda semana na bilioteca pública e pegava 3 livros (com duas carteirinhas emprestadas). Nossa eu li muito naquela época.Hoje tenho um meninão de 10 meses e fica mais dificil ler.
ResponderExcluirAdorei seu post. Estou seguindo vc me segue de volta? Bjs.
http://matheusmeucoracao.blogspot.com.br/
Sueli, que quadro bonito a sua experiência pareceu aos meus olhos. Bem, o descaso com a cultura é crônico nesse país. Na minha cidade, estamos sem biblioteca. Não por falta de uma comunidade atuante. Estamos lutando por uma biblioteca bem localizada. Pois a que a administração da cidade disponibiliza é um arremedo de biblioteca. Alguns a reputam por mal assombrada face à desconsideração em localizá-la no lugar mais ermo da cidade. Bjs e obrigada!
ResponderExcluirNossa, Marcisiane, aos 4 anos e sozinha? Parabéns! Aprendi aos 6. Minha ensinou-me a ler por intermédio da Cartilha Caminho Suave. Até hoje lembro com saudade de como era fissurada pela barriguina do "b". Ah, bons tempos em que minha carteirinha era todinha carimbada e gasta pelo uso! Beijocas
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